Uma bagunça generalizada ocorre na base aliada do presidente Jair Bolsonaro. O maior desafio está em como acomodar os principais partidos do Centrão (PL, PP e Republicanos) sem deixar ninguém de lado, mas o ciúme é notório. O Republicanos já ameaça sair da base por sentir-se excluído do núcleo duro do governo. No PL, a filiação do presidente não foi aceita por unanimidade. O vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos, anunciou que deixará a sigla e vai levar pelo menos outros cinco parlamentares. No Rio de Janeiro, a liderança do senador Flávio Bolsonaro à frente do PL já incomoda os líderes locais, que preveem a perda de espaço para nomes de confiança do filho do presidente.

O caso que mais preocupa o Planalto é do Republicanos. Nos bastidores se comenta que a decisão de desembarcar do governo já estaria para ser tomada. A falta de empenho para efetivar a nomeação do ex-prefeito Marcelo Crivella na Embaixada da África do Sul foi a gota d’água. Crivella é sobrinho do líder da Igreja Universal, bispo Edir Macedo, e uma ruptura causaria o distanciamento de um grupo evangélico poderoso. Os dirigentes da legenda entendem que estão sendo preteridos por PL e PP e que as negociações para os palanques estaduais desconsideram a estratégia do partido. Também pesa a proximidade maior de Bolsonaro com líderes evangélicos de outras igrejas, como Silas Malafaia, o deputado Marco Feliciano e o ex-senador Magno Malta.

Não é só o Republicanos que pensa em desembarcar da campanha bolsonarista mais à frente. De olhos bem atentos às pesquisas, os aliados analisam, especialmente, a rejeição do presidente que só sobe e já atinge 55% dos eleitores. Muitos preferem não ficar para assistir o fim melancólico que o governo pode ter. O União Brasil (DEM e PSL) ruma para apoiar o ex-juiz Sergio Moro. Apesar de se posicionarem como um grupo de direita, eles não encontram motivos para apoiar o mandatário. O deputado Junior Bozzella diz que as baixas já começaram. “A popularidade de Bolsonaro é baixíssima. O País está assolado pelo desemprego, e a economia patina. Ele é um dos piores presidentes da história”, afirmou. O Patriota chegou a filiar o senador Flávio e anunciar a vinda de Bolsonaro. A crise foi tamanha que o presidente da legenda, Adilson Barroso, foi afastado e, hoje, a tendência é que o partido também não apoie o ex-capitão.

Os presidentes do PL e PP, Valdemar da Costa Neto e Ciro Nogueira, respectivamente, vão abrindo espaço para o presidente. Neste cenário, o senador Flávio é visto como o principal articulador e já tomou as rédeas da campanha no Rio de Janeiro. Ele já incomoda os parlamentares dos partidos do Centrão que serão inflados com apoiadores do presidente vindos de outras siglas, principalmente do PSL. Com a chegada de Flávio, todos os senadores do Rio são do PL e o reduto bolsonarista promete dobrar o número de parlamentares. Vai faltar espaço privilegiado para as campanhas de deputados ligados às antigas estruturas.

REPUBLICANOS Crivella (à esq.) e Marco Pereira: reavaliam apoio ao presidente (Crédito:Divulgação)

O Rio de Janeiro caminha no sentido contrário ao resto do País. No Norte e Nordeste, a tendência é que parte de parlamentares dos partidos do Centrão apoiem outras candidaturas, independentemente do acordo dos caciques. A cientista política, Juliana Fratini disse que os políticos do Centrão vão se aproximar de quem estiver à frente nas pesquisas. “É muito mais fácil abandonar o barco e migrar para outros com mais chances de vitória”, afirmou Juliana. Também há casos que consideram a divergência política, como o do vice-presidente da Câmara, deputado Marcelos Ramos, que está de saída do PL. “Eu sempre deixei claro da minha incompatibilidade de ser do mesmo partido que o presidente Bolsonaro”, disse Ramos. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, escreveu ofício da legenda com anuência à desfiliação porque a manutenção causaria “constrangimentos”.

A desconfiança da lealdade do Centrão intriga os bolsonaristas mais antigos. O blogueiro Oswaldo Eustáquio disse à ISTOÉ que tem suas restrições aos partidos do Centrão e, por isso, se filiou ao PMN. Ele afirma que vai concorrer ao Senado pelo estado de São Paulo, ao mesmo tempo o PMN pensa em lançar o ex-ministro Abraham Weintraub para ser o candidato a governador paulista. No horizonte está o abrigo para os conservadores. Bolsonaro quer fazer fortes palanques e escalou mais da metade dos ministros (12) para disputar cargos de governador e senador. Para o mandatário, a campanha de 2018 foi muito mais simples. Era mais fácil ser atirador do que ser a vidraça.