Longas filas de passageiros se formaram nesta sexta-feira à espera dos poucos ônibus que circulam em Caracas e a confusão no pagamento com as novas notas persistiam depois do aumento da passagem decretado pelo governo.
Na noite de quinta-feira, a vice-presidente Delcy Rodríguez anunciou o aumento de 400% na passagem, que passou de 0,2 bolívar (20.000 bolívares da antiga moeda) para 1 bolívar (100.000 bolívares da antiga moeda).
“Você vai pegar o transporte e já não querem mais aceitar as notas velhas. Às vezes você dá a nota nova e eles não têm troco para te dar”, queixa-se José Bravo, um aposentado de 63 anos.
Em Chacaito, no leste de Caracas, as pessoas esperavam até uma hora em longas filas para tentar entrar nos poucos ônibus. Quando chegava algum, havia empurra-empurra e confusão na hora de pagar.
Na segunda-feira passada entraram em circulação as novas notas e moedas que cortaram cinco zeros do bolívar, em meio a uma hiperinflação que pulverizou o valor da antiga moeda e que – segundo o Fundo Monetário Internacional – pode superar 1.000.000% este ano.
A medida faz parte de um plano de reformas econômicas do presidente Nicolás Maduro, que anunciou que as velhas notas conviverão com as novas, o que gera confusão.
Na Venezuela o dinheiro em espécie está cada vez mais escasso. As pessoas fazem longas filas em caixas eletrônicos para sacar no máximo 10 bolívares diários (1.000.000 de bolívares da antiga moeda), que não dá nem para comprar um café.
“Nem todo mundo consegue as notas para pagar a passagem”, conta à AFP Carlos Lira, estudante universitário.
Cerca de 90% da frota de transporte público está paralisada pela escassez e os altos custos de manutenção, segundo o grêmio, que protestou exigindo aumentos da passagem.
Alguns usuários, no entanto, consideram que o aumento era necessário.
“Os usuários se chateiam pela cobrança da passagem, mas é que (o preço) de manutenção para um carro é exorbitante. Isso é um caos, a culpa é do governo”, disse Yazira Volcán.
Embora de maneira informal, a gasolina também aumentou com a reconversão monetária. Só aceitam as notas antigas de 1.000 bolívares ou mais, mas um tanque cheio de um veículo pequeno custa somente 40 bolívares (da moeda nova).
“Paguei com notas de 1.000 e 5.000, da moeda velha, e não me deram troco. Aumentou, mas é insignificante”, disse à AFP Habib Kauam, engenheiro.
A nota de 1.000 bolívares da velha moeda dá somente para a gasolina. Com um dólar no câmbio oficial (60 bolívares soberanos) podem-se comprar seis milhões de litros.