A cantora Marília Mendonça, de 26 anos, morreu nesta sexta-feira, 5, após a queda de um avião de pequeno porte em uma cachoeira perto de Caratinga (MG), a cerca de 300 quilômetros de Belo Horizonte. Seu produtor, Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Dias Filho, o piloto, Geraldo Medeiros Junior, e o copiloto, Tarcísio Viana, também estão entre as vítimas. A artista – um dos principais nomes do sertanejo feminino do Brasil – faria um show à noite na cidade. Ainda é desconhecida a causa do acidente, que será investigado.

A Companhia Energética de Minas (Cemig) informou que o avião atingiu um cabo de uma torre de distribuição da companhia de Caratinga, mas não há informações se isso está ligado à causa do acidente. A tragédia mobilizou rapidamente policiais, bombeiros e socorristas, além de curiosos. Nas redes sociais, vídeos da tentativa de resgate foram transmitidos, enquanto fãs torciam pelo desfecho positivo. Durante a tarde, a assessoria da artista chegou a confirmar que todos os ocupantes tinham sobrevivido, motivo de comemoração de fãs – a informação foi retificada pelos bombeiros menos de uma hora depois.

No início da tarde, Marília havia postado vídeo em suas redes sociais, no qual aparece a caminho da aeronave, com sua mala, e depois já dentro do avião. Nele, fala sobre o fim de semana de shows em Minas e exalta comidas típicas da região, como queijo canastra e feijão-tropeiro. “Me conta mais delícias desse Estado maravilhoso que é Minas Gerais”, escreveu. À noite, moradores de Caratinga se reuniram na catedral da cidade para homenagear a sertaneja.

DENÚNCIA

A aeronave operada pela PEC Táxi Aéreo era de modelo C90A e tinha sido fabricada em 1984, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A situação de aeronavegabilidade (condições para voo) é “normal”, diz o órgão federal, e o certificado foi emitido em agosto do ano passado e é válido até julho de 2022.

Em junho, o Ministério Público Federal (MPF) em Goiás cobrou a Anac por omissão na fiscalização de supostas irregularidades da empresa PEC Táxi Aéreo, dona da aeronave. O pedido da Procuradoria tinha como base uma denúncia recebida pelo órgão, que apontava supostos problemas técnicos na aeronave.

No ofício, o procurador da República Marcello Wolff pediu que a agência se manifestasse sobre essa denúncia, que foi anexada ao processo. O texto da denúncia, cuja autoria não foi revelada, dizia ao MPF que a empresa PEC Táxi Aéreo operava com irregularidades que colocam “em risco tripulantes e passageiros”.

Segundo a denúncia, de maio, a aeronave com prefixo PT-ONJ “está desde o início do ano realizando voos com problemas no para-brisa, ocorrendo que o vidro fica embaçado com prejuízo visual em pousos e decolagens”. Conforme o texto que chegou ao MPF, o fato era conhecido pela empresa, porém ignorado.

O relato ao MPF também alega que a empresa coloca pilotos “com jornada de voo estourada para voar”. No comunicado à Anac, Wolff dá o prazo de 20 dias para que a agência se manifeste acerca da manifestação, “notadamente sobre a omissão da Agência Nacional de Aviação Civil quanto ao seu dever de fiscalização de supostas irregularidades”.

Em 2019, a empresa também foi multada pela Anac em processos por descumprimento dos prazos de repouso de um dos tripulantes. Conforme a decisão, a empresa “colocou em risco vários voos por ela realizados” na época do descumprimento da jornada, em julho de 2008.

A aeronave usada por Marília Mendonça tinha capacidade para transportar seis pessoas, além dos pilotos. A aeronave era de pouso convencional, com dois motores turboélice.

Segundo a Anac, as investigações serão feitas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica. A Anac não se manifestou sobre o ofício do MPF até 21 horas de ontem. Já a PEC Táxi Aéreo disse lamentar o acidente. Destacou que o avião era homologado, a equipe era treinada, além de ter experiência. Disse ainda que as condições meteorológicas eram favoráveis e acrescentou que “as causas serão devidamente apuradas”.

Já a Cenipa disse que a equipe de investigação foi acionada. A Cenipa explica que os investigadores fotografam cenas, retiram partes da aeronave para análise e ouvem relatos de testemunhas. “Não existe um tempo previsto para essa atividade ocorrer, dependendo sempre da complexidade da ocorrência.”

ÁREA DE RISCO

Piloto que sobrevoa há dez anos a região de Caratinga, Rafael Lacerda afirmou que a área onde ocorreu o acidente é evitada pelos colegas. “A gente não sabe por que ele (piloto que levava Marília e as outras vítimas) decidiu ir por ali”, diz. No início da tarde de ontem, ele comandava um voo que partiu de Viçosa (MG) com destino a Caratinga, aterrissando cinco minutos após a previsão de chegada da tripulação que levava a cantora.

Segundo Lacerda, os fios de eletricidade na região costumam atrapalhar o pouso. “Para nós que estamos acostumados não chegam a atrapalhar. Mas estão em um setor de muita aproximação e com o relevo muito alto, então é uma área que todos os pilotos evitam”, relata. Ele diz ainda que o tempo estava claro, com céu aberto, e o sol em uma posição “que não atrapalhava a visualização dos fios”, disse Lacerda.

“Só soubemos que caiu quando pousamos e vimos que ele (avião em que Marília viajava) não estava no aeroporto. Não ouvimos barulho, não vimos fumaça, sobrevoamos ali e não percebemos”, contou Glauco Souza, de 44 anos, que também estava a bordo do avião pilotado por Lacerda ontem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.