Um cara do batuque do samba, eleito pelo candomblé para ser praticante da religião, e apaixonado pela escola de samba carioca Império Serrano, do bairro de Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro. Assim se definia Arlindo Cruz, artista que nos deixou nesta sexta-feira, aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde abril último para tratar complicações de um AVC sofrido em 2017.
Em um bate-papo leve e descontraído em 2013 com Edson Franco, atual editor-chefe do portal IstoÉ, o sambista falou sobre suas paixões e inspirações para a vida e para a arte, e deu um show particular de voz e banjo, com a cadência que só ele sabia dar ao samba. Relembre!
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“Eu sou um cara que eu sou do batuque, saio na Império Serrano, sou imperino serrano, desfilo até em outras escolas quando me chamam e tal. Sou compositor, né, lá na escola, e adoro uma roda de samba. Tenho meu pagode agora toda terça-feira lá no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. Adoro ir nos pagodes em qualquer lugar. Gosto de conversar, gosto de improvisar. Então, eu sou um batuqueiro.”
Como é a sua convivência com a religião?
Eu não elegi o candomblé como minha religião. O Candomblé me elegeu como praticante, porque quando a minha mãe fez o santo, ela estava grávida de mim e eu já nasci, como eles dizem, fuxicado no santo. E na minha idade de 52 anos, são 52 anos que eu amo orixá.
Você já foi vítima de preconceito por cor ou religião, você já sentiu alguma vez ao longo da sua vida?
Preconceito tem até pela música, né. Até no próprio samba, ter escolhido o samba, gostar de samba, ser um músico de samba. Tem gente, até também às vezes, porque o meu samba é um samba que eu busco nas raízes, eu bebo na fonte das raízes, mas eu misturo com Ed Motta, Marcelo D2, Hip Hop. Se tiver uma misturinha que leve você a ficar mais forte, a exercer mais beleza na tua obra, na tua música, eu acho que é bacana. Acho que todo mundo sai ganhando, tanto o samba, quanto o Hip Hop, quanto o balança, MPB, misturar bem com boas doses, todo mundo sai satisfeito.