O partido que apresentou a irmã do rei da Tailândia, a princesa Ubolratana, para disputar o cargo de primeira-ministra retirou sua candidatura, neste sábado (9), após causar um terremoto político no país.
A decisão aumenta as chances de vitória da junta militar nas eleições legislativas de março.
“O Partido Thai Raksa Chart se submete à ordem real”, disse esta legenda criada por pessoas próximas a Thaksin Shinawatra, cedendo aos ultramonarquistas.
Na sexta-feira à noite, a casa real divulgou uma mensagem desaprovando sua candidatura. No texto, alega-se que a presença na política de membros da família real é “muito inadequada”.
“A candidatura de Ubolratana cruzou claramente uma linha vermelha e pôs a instituição [real] em perigo”, afirma a professora de Ciência Política Puangthong Pawakapan, da Universidade Chulalongkorn, em Bangcoc.
Segundo ela, assim como para os poucos analistas que aceitam falar publicamente, a mensagem da casa real pôs fim às aspirações políticas da princesa.
Os grupos ultramonarquistas, que consideram Thaksin Shinawatra e seus partidários como perigosos antimonárquicos, aplaudiram a condenação da casa real.
Alguns querem, inclusive, que a princesa peça desculpas públicas por ter-se aliado aos “Vermelhos”, como são conhecidos os partidários de Shinawatra.
O anúncio do veto real foi “um alívio”, disse à AFP um opositor conhecido com o pseudônimo “Champ 1984”.
“Embora se apresentasse como uma plebeia, para todo mundo aqui era um membro da família real e seria tratada como tal”, ou seja, ninguém poderia criticá-la, explicou.
Antes do anúncio de sua retirada, a princesa publicou neste sábado de manhã uma mensagem no Instagram, dando a entender que ainda poderia manter sua candidatura.
“Volto a repetir, com sinceridade: quero que a Tailândia avance e seja reconhecida pela comunidade internacional”, escreveu a princesa, que viveu muitos anos nos Estados Unidos. Na mensagem, ela usou a hashtag #LoveLove.
Ubolratana, de 67 anos, apresentava-se pelo Partido Thai Raksa Chart, dirigido pelo clã do milionário e ex-primeiro-ministro no exílio Thaksin.
Neste sábado, o partido cancelou um comício de campanha previsto para acontecer em Bangcoc, de olho nas eleições legislativas de 24 de março.
“Terremoto político”, dizia a manchete na edição deste sábado do jornal “Bangkok Post”, pedindo um “esclarecimento do status real da princesa”.
O Palácio real e os militares consideram Thaksin Shinawatra uma ameaça para a realeza, o que explica os golpes de Estado de 2006 e 2014 contra seu governo e contra o de sua irmã Yingluck.
Desde a tomada do poder dos generais, em 2014, o rei Bhumibol Adulyadej faleceu, e seu filho Maha Vajiralongkorn, seu sucessor, começou a reformar a monarquia. Por esta razão, a candidatura de sua irmã foi considerada uma ruptura sem precedentes com a era Bhumibol.
Nenhum membro da família real já aspirou a um cargo de chefe do governo desde o estabelecimento da monarquia constitucional em 1932.
O chefe da junta militar, general Prayut Chan-O-Cha, que também se candidatará a primeiro-ministro nas legislativas de março, aparece agora como franco favorito.
Neste sábado, seus partidários foram às ruas de Bangcoc. Em paralelo, os estudantes das duas maiores universidades da capital, Chulalongkorn e Thammasat, criaram um boneco gigante do general, com um nariz de Pinóquio e com um cartaz que dizia “Não vou me apresentar”.