15/10/2024 - 7:00
“Eu sou contra o aborto, contra a liberação de drogas, e jamais irei implantar, em nenhuma escola, nada relacionado à ideologia de gênero. Minha criação em uma família cristã, meu juramento de defender a vida como médico e minha vida como pai e esposo provam o que eu digo”.
A frase poderia ser associada a boa parte dos políticos do entorno de Jair Bolsonaro (PL), mas o autor é o deputado estadual Lúdio Cabral (PT-MT), candidato à prefeitura de Cuiabá, em seu programa no horário eleitoral gratuito de televisão.
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Caminho sem petismo
A oposição ao aborto e às drogas e a defesa de princípios religiosos como discurso eleitoral, associadas ao bolsonarismo e a candidatos do campo conservador, ganharam protagonismo na campanha de Lúdio para reverter a vantagem construída por Abílio Brunini (PL), contumaz aliado do ex-presidente, no primeiro turno — ele teve 39,61% dos votos válidos, contra 28,31% do oponente.
A estratégia da campanha é “virar a chave” para encarar o segundo turno na capital mato-grossense, onde a classificação foi uma surpresa positiva para o partido do presidente Lula. Eduardo Botelho (União Brasil), candidato do governador Mauro Mendes (União), era favorito nas pesquisas de intenção de voto e, nas urnas, teve 27,77%.
Na votação de 27 de outubro, no entanto, é preciso ter maioria dos votos válidos para vencer, o que mobiliza concessões políticas, ideológicas e morais. Na propaganda eleitoral, Lúdio tem apostado em se autointitular “médico pró-vida” e dado espaço a depoimentos de bispos, pastores e eleitores identificados como cristãos.
“Lúdio tem atraído cada vez mais os cristãos. Nós devemos ser perfume, e não repelente“, disse o bispo Júlio Cesar Tavares em um dos programas exibidos. Em 12 de outubro, o postulante à prefeitura emulou um gesto de Lula na campanha presidencial de 2002, a primeira em que se elegeu, ao publicar em suas redes sociais a “Carta do Lúdio aos cristãos”. Entre as mensagens, o candidato diz que suas ações são “conduzidas pela defesa e proteção da família e da natureza, nossa casa comum” e promete uma “administração abençoadora”.
Em outra publicação, o petista compartilhou mensagens de usuários que se identificam como cristãos em seu apoio.
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Lúdio investe ainda em dar exposição a sua candidata a vice, Rafaela Fávaro (PSD), filha do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), senador eleito no Mato Grosso sem identificação com o eleitorado de esquerda, e tem evitado se associar mais claramente ao PT — em outra publicação nas redes sociais, compartilhou a mensagem de um usuário que dizia “não ser PT nem Lula”, mas votar no postulante à prefeitura.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Lula recebeu 38,50% dos votos em Cuiabá, e Bolsonaro, 61,50%.
Outro lado
Adversário do petista, Abílio Brunini traça caminho oposto e reforça a associação a Bolsonaro, seu principal cabo eleitoral.
Na propaganda eleitoral, o deputado federal aposta na estética de “selfie” (vídeos gravados com a câmera frontal do celular, sem o auxílio aparente de cinegrafistas), similar à que se popularizou com o ex-presidente, e se diz um candidato “de verdade” e “contra a esquerda”.
Na segunda-feira, 14, recebeu o padrinho na cidade para um comício na Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), no primeiro compromisso de Bolsonaro com um aliado que disputa segundo turno nas eleições municipais.