03/11/2024 - 18:21
O candidato apoiado pelos socialistas pró-Rússia, Alexandre Stoianoglo, está à frente da presidente pró-europeia Maia Sandu em Moldávia por uma pequena margem, de acordo com os resultados parciais anunciados neste domingo (3), ao fim de uma eleição marcada pelo receio de interferência russa.
Após a apuração de 90% das cédulas, Stoianoglo obteve 51% dos votos, contra 49% para sua oponente, anunciou à noite a Comissão Eleitoral.
No entanto, o lado presidencial ainda espera reverter a tendência com os votos da diáspora.
A chefe de Estado em fim de mandato, uma economista de 52 anos, liderou com ampla vantagem o primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 20 de outubro. Porém, seu adversário, um ex-procurador de 57 anos, recebeu apoio de vários candidatos menores.
Sandu, a primeira mulher a ocupar a presidência desta ex-república soviética situada entre a Otan e a esfera de influência russa, distanciou-se do presidente russo, Vladimir Putin, após a invasão da vizinha Ucrânia em 2022.
Analistas previram uma disputa acirrada neste pequeno país de 2,6 milhões de habitantes, semelhante à que ocorreu na semana passada nas eleições legislativas da Geórgia, outra ex-república soviética, onde o partido governante venceu por uma margem estreita.
Assim como na Geórgia, as eleições foram realizadas em meio a temores de interferência russa, que nega qualquer intervenção.
Ao longo do dia, as autoridades denunciaram “provocações e tentativas de desestabilização”.
A polícia afirmou que está investigando uma suposta provisão por parte da Rússia de “transporte organizado” para Belarus, Azerbaijão e Turquia, para permitir que eleitores residentes em seu território votassem em consulados ou embaixadas moldavas nesses países.
Ainda segundo a mesma fonte, houve ataques cibernéticos e falsos alertas de bomba durante as votações no exterior.
Neste domingo, a taxa de participação foi notavelmente mais alta que no primeiro turno, com longas filas em vários locais e um número recorde de eleitores na diáspora.
Há duas semanas, no referendo sobre a inclusão na Constituição moldava do projeto de adesão à União Europeia (UE), o “sim” venceu por apenas 50,35% dos votos.
A situação atribuiu a vitória apertada à compra maciça de votos e, para evitar que isto volte a ocorrer neste domingo, intensificou a campanha nas redes sociais e nos povoados.
As negociações de adesão foram formalmente abertas em junho deste ano.
Stoianoglo, por sua vez, fez campanha com uma linguagem sem arestas e um vocabulário no qual palavras russas se misturam à língua oficial romena.
Em um discurso, o candidato prometeu ser “o presidente de todos” e negou “ter relações com o Kremlin” ou qualquer envolvimento “em fraudes eleitorais”.
Após votar, acompanhado da mulher e da filha, ele disse que busca um país “que não peça esmola, mas que desenvolva relações harmoniosas tanto com o leste quanto com o oeste”.
Esta ex-república soviética, independente desde 1991, está polarizada.
Na capital, Chisinau, e na diáspora predominam os apoiadores da causa europeia; enquanto nas zonas rurais, assim como na região separatista da Transnístria e na região autônoma de Gagaúzia, os pró-russos são maioria.
Natalia Grajdeanu, uma cerimonialista de 45 anos, viajou da Irlanda, onde vive. “Somos um país pequeno com um grande coração e queremos que a Europa seja nossa casa”, declarou à AFP na capital.
Outros, como Grigore Gritcan, um aposentado da Transnistria, se mostram reticentes. Ele diz defender “mais liberdade e uma verdadeira paz”, em um contexto em que “as pessoas não têm o que comer nem trabalho”.
“Muitos [moldavos] temem também ser arrastados para a guerra” e por isso, preferem “um candidato que mantenha boas relações com Moscou, pois consideram que esta é uma garantia de que não serão atacados”, disse à AFP Andrei Curararu, do ‘think tank’ WatchDog.
A eleição é acompanhada com atenção pela UE e pelos Estados Unidos, preocupados com a possibilidade de interferência russa.
A Moldávia está “pagando um preço alto” por sua decisão de cortar laços com a Rússia, ressalta o especialista do WatchDog.
“A pressão é enorme e o dinheiro gasto nestas atividades desestabilizadoras é colossal”, acrescentou.
Segundo ele, o objetivo destas campanhas é recolocar a Moldávia “na órbita da Rússia”.
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