Câncer no pâncreas: médico fala sobre recuperação de Tony Bellotto após cirurgia

O guitarrista dos Titãs passou por uma cirurgia para retirar um tumor maligno no pâncreas

Tony Bellotto
Tony Bellotto Foto: Reprodução

Tony Bellotto, 64, guitarrista dos Titãs, passou por uma cirurgia para retirar um tumor maligno no pâncreas. Conforme informado pela equipe da banda em nota publicada nas redes sociais nesta quinta-feira, 10, o procedimento foi realizado com sucesso, e o músico inicia agora o processo de recuperação.

“Nosso querido Tony Bellotto fez a cirurgia. O procedimento foi bem-sucedido e agora ele inicia o processo de recuperação. Estamos muito felizes e agradecemos o carinho e o apoio de todos”, diz o comunicado.

No dia 3 de abril, completou um mês desde que Bellotto revelou, por meio das redes sociais, que está com câncer no pâncreas e que passará por uma cirurgia. Na ocasião, o artista explicou que o diagnóstico foi feito após um exame de rotina. A doença é silenciosa e responsável por 5% dos óbitos por câncer anualmente no Brasil.

Devido ao tratamento, o guitarrista fará uma pausa temporária nos palcos, e os Titãs seguirão cumprindo sua agenda de shows, acompanhados pelo músico Alexandre de Orio.

Segundo uma nota divulgada pelos Titãs, após a recuperação, o músico deverá retomar suas atividades profissionais.

“Estou tranquilo e confiante, enfrentando tudo com coragem e dignidade. Inspirado pelo nosso querido Branco Mello, que passou por tratamentos difíceis e agora está aí, tocando, cantando e se divertindo nos shows. Nos vemos em breve”, disse ele.

Assista ao vídeo de Tony Bellotto:

 

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Tumor no pâncreas

No final de março, Fernanda Capareli, médica do Hospital Sírio-Libanês e responsável pelo tratamento do músico, falou sobre o estado de saúde dele e como o artista reagiu à notícia.

“Esse tipo de câncer tem um comportamento agressivo e costuma se espalhar rapidamente pelo organismo. No caso dele, felizmente, não foi identificada metástase”, explicou, em entrevista ao jornal O Globo.

De acordo com a médica, Tony lidou com o diagnóstico de maneira pragmática, sem passar por um período de negação. “Ele não se perguntou ‘por que eu?’, mas adotou uma postura voltada para a solução, perguntando ‘como podemos resolver isso?’”.

Mesmo com hábitos saudáveis, o marido de Malu Mader não estava isento do risco da doença. “O maior fator de risco para o câncer é o envelhecimento. Embora um estilo de vida saudável reduza a probabilidade de desenvolver tumores, ele não elimina completamente essa possibilidade”, afirmou Fernanda Capareli.

Nem todos os tumores no pâncreas são cânceres. Alguns são benignos — ou seja, não se espalham e não oferecem grandes riscos —, enquanto outros podem ser malignos, com o potencial de se espalhar para outros órgãos, configurando o câncer.

O câncer de pâncreas é uma doença silenciosa e agressiva. Seus sintomas são frequentemente confundidos com os de outras condições e, por isso, o diagnóstico costuma ser tardio, permitindo que o quadro evolua para estágios mais graves antes de qualquer intervenção, o que eleva a taxa de mortalidade.

À reportagem da IstoÉ Gente, o Dr. Cleyson Santos, oncologista da Rede Mater Dei de Saúde, fala sobre a cirurgia que retirou o tumor de Tony Bellotto, a recuperação e o tratamento que o artista terá daqui para frente.

“Quando o diagnóstico é inicial, ou seja, o tumor está localizado no pâncreas, normalmente conduzimos com a cirurgia, que costuma ser grande. A técnica depende do local do pâncreas onde surgiu o tumor. Os tumores de cabeça normalmente são operados com uma cirurgia chamada Whipple, na qual se remove a cabeça do pâncreas, uma parte do intestino chamada duodeno, que fica ligada a ele, e a vesícula biliar. É feita uma série de anastomoses, ou seja, atalhos no trânsito gastrointestinal, para que o paciente volte a se alimentar e tudo mais. Já os tumores de corpo e cauda são tratados com uma cirurgia chamada corpo-caudectomia”, explica o profissional.

Segundo o oncologista, normalmente, depois que o paciente se recupera, a recuperação é um pouco mais demorada. Ele pode apresentar alguma perda de peso, dificuldade para se alimentar, problemas na absorção de nutrientes e, às vezes, precisa de enzimas pancreáticas artificiais.

“Em pessoas jovens e fortes, como o Tony, a recuperação costuma ser muito boa. E, depois que o paciente se recupera, normalmente é feita a quimioterapia adjuvante — uma quimioterapia preventiva — para que a doença não retorne. Nos pacientes que já apresentam o quadro com metástases, ou seja, com espalhamento da doença, principalmente para o fígado, pulmão ou peritônio, normalmente realiza-se o tratamento com quimioterapia, e há muitos protocolos. Esse tratamento tem caráter paliativo.”

Já sobre a recuperação de Tony Bellotto após a cirurgia, o Dr. Cleyson Santos diz que existem muitos tratamentos modernos.

“O cenário hoje, no contexto privado, melhorou muito. Possivelmente ele deve fazer um tratamento quimioterápico após a recuperação da cirurgia, com intuito adjuvante. Isso considerando que seja o tumor mais comum de pâncreas, que é o adenocarcinoma. Outros tumores do pâncreas, como os insulinomas e tumores neuroendócrinos, são mais raros, tratados com cirurgia e, às vezes, não exigem nenhum tratamento posterior — apenas acompanhamento. É difícil saber com precisão, mas o tipo mais comum é o adenocarcinoma, que é tratado da forma que mencionei anteriormente”, encerra.

Em março, conversamos com o médico oncologista Dr. Wesley Pereira Andrade, que nos explicou tudo sobre a doença.

“Na sua fase inicial, o câncer de pâncreas não apresenta sintomas. Entretanto, à medida que vai crescendo, os sintomas podem incluir perda de peso, dor abdominal, amarelamento dos olhos, conhecido como icterícia, associado à colúria (escurecimento da urina) e à colia fecal (esbranquiçamento das fezes)”, diz o profissional.

Como diagnosticar?

O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem, principalmente a ressonância magnética, que chamamos de colângio-pancreatografia. Também é possível identificar essas lesões pancreáticas em tomografias de abdômen e ultrassonografias abdominais. Quando se identifica uma lesão pancreática, é necessária uma biópsia para confirmar o diagnóstico definitivo. Nesse processo, retira-se uma amostra da lesão e envia-se para análise no estudo anátomo-patológico, realizado por um patologista ao microscópio.

Para pacientes com mutações genéticas, é importante realizar o rastreamento dessas mutações nos familiares e, ocasionalmente, realizar exames de check-up periódicos.

Não existe um check-up, ou screening, recomendado para a população em geral, sendo essa recomendação restrita a pacientes com determinadas mutações genéticas.

Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores serão as taxas de cura. Uma vez diagnosticado o adenocarcinoma de pâncreas, o próximo passo é realizar o estadiamento para determinar se a doença está localizada ou se já se espalhou pelo corpo.

Outros sintomas incluem fraqueza, perda de apetite, perda significativa de peso, náuseas, vômitos e, nas fases mais avançadas, distensão abdominal.

Tratamento

Infelizmente, o câncer de pâncreas ainda apresenta altas taxas de mortalidade, apesar dos tratamentos disponíveis. Isso ocorre devido ao entupimento do canal da bile, o que impede a bilirrubina de ser eliminada pelo intestino, causando seu acúmulo no sangue.

Alguns casos exigem radioterapia complementar após o tratamento com quimioterapia e cirurgia.

Para lesões mais iniciais, a cirurgia é indicada, podendo ser uma ressecção da região da cabeça do pâncreas, nos tumores que acometem essa área, procedimento conhecido como duodenopancreatectomia. Para tumores nas regiões do corpo e cauda do pâncreas, pode ser realizada uma pancreatectomia distal.

Nos casos mais avançados de câncer de pâncreas, o tratamento começa com medicamentos à base de quimioterapia neoadjuvante, visando reduzir o tamanho da lesão e facilitar a cirurgia.

Chance de cura

  • Mais de 80% dos pacientes com câncer de pâncreas são diagnosticados na fase avançada, o que reduz consideravelmente a chance de cura.
  • Cerca de 90% dos pacientes com câncer de pâncreas falecem em até 5 anos, resultando em uma taxa global de cura de aproximadamente 10%.

“A nossa reportagem ressalta que as informações fornecidas pelos médicos oncologistas Dr. Wesley Pereira Andrade e Dr. Cleyson Santos não são destinadas ao caso do guitarrista Tony Bellotto. O profissional se expressa de forma geral e afirma que cada paciente diagnosticado com câncer no pâncreas tem seu caso clínico específico e individual.”

Referências Bibliográficas

Dr. Cleydson Santos é Oncologista Clínico e coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital Mater Dei Salvador; Oncologista Clínico das Obras Sociais de Irmã Dulce e Professor de Medicina na Faculdade Zarns.

Dr. Wesley Pereira Andrade – Oncologista - CRM 122593 - Oncologista é MD, Ph.D., mestre e doutor em Oncologia, além de mastologista e cirurgião oncologista. Dr. Wesley Pereira Andrade é médico titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e médico titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SMCO).