Quando a história de um país é contada em direto numa série de ficção como se fosse uma notícia de jornal, isso é… Brasil.

As notícias dizem que segunda temporada d’O Mecanismo, a série da Netflix que estreou a semana passada, vai continuar a contar a história da Lava Jato. Mas será apenas isso?

Os novos episódios mostram como o Juiz Rigo e os policiais Rufo e Verena entram num viés político extrapolando a sua função técnica; relatam as conspirações de Thames e Lemes, manipulando jornalistas, juízes e políticos, com vista a derrubar o governo da Janete e acusar na justiça o ex-presidente João Higino impedindo-o de se candidatar de novo a Presidente; e definem a centralidade do doleiro Ibrahim como um instrumento diabólico ao serviço de políticos corruptos e empresários sem princípios, liderados por Ricardo Brecht. Por ordem de aparição na vida real: Sérgio Moro, Gerson Machado, Erika Marena, Dilma Roussef, Michet Temer, Aécio Neves, Alberto Youssef e Marcelo Odebrecht.

Muito bom de assistir. Você não pode perder. O Mecanismo segunda parte, leva nos por uma fantástica história que mistura política, contrabando, mentiras, romance e corrupção.

A trama e o ritmo são tão bons que o José Padilha e a Elena Soares podem imaginar-se nas passadeiras vermelhas de Nova Iorque ensaiando discursos de agradecimento aos parentes mais chegados nas cerimónias dos Gremmy’s e dos Globos de Ouro que vão trazer para o Brasil. Mas vai ser um discurso difícil de fazer.

Quem assiste toma um susto. Os fatos são tão próximos e tão reais, que esta série de ficção, “onde os nomes são transformados para efeitos de dramatização”, mais parece documentário. Uma notícia. Ou pior ainda, um daqueles clássicos relatos de guerra onde as coisas estão ainda acontecendo.

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A proximidade da ação com a vida real é tão grande que ficamos sem saber se estamos assistindo ao Mecanismo da Flix ou ao Café com Jornal da Band. Nem quero nem pensar no que os bandidos podem bolar depois de assistir a esta obra prima. Muitos dizem que a realidade sempre ultrapassa a ficção, mas no Mecanismo é demais.

Quando termino os oito novos episódios o céu e a terra já trocaram de lugar. Mas eu quero mais e logo imagino novos capítulos onde militares austeros torturam com poesia filósofos idiotas. Penso nas histórias incríveis que podem acontecer depois da linha do tempo real ter acabado e seja a pura ficção a inspirar a nova realidade.

O que será que vai rolar? Eu não sei, Verena, mas o Brasil aguenta tudo.


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