O caminho para o Brasil chegar ao pódio da canoagem slalom na Olimpíada de Tóquio, em 2020, é tortuoso, tem 30 milhões de litros de água e sensação térmica de 40ºC. É percorrido seis dias por semana e, só este ano, por pelo menos três meses. Mesmo assim, é enaltecido por quem o percorre como sendo “um dos melhores do mundo”. Ninguém se queixa.

A promessa de que as instalações permanentes dos Jogos do Rio colocariam o País em outro patamar olímpico ainda é envolta em incertezas, mas desde o fim do ano passado pelo menos os atletas da slalom têm pouco do que se queixar. Parceria entre a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a prefeitura do Rio permite que a equipe brasileira treine na corredeira artificial construída no Complexo de Deodoro para a última Olimpíada.

“É um dos melhores canais que eu já remei em toda minha experiência como atleta”, diz Ana Sátila, principal canoísta do Brasil e dona de dois pódios no Mundial do ano passado, na França. “O treinamento pra Tóquio está acontecendo desde que a gente acorda até a hora de dormir. Temos metas estabelecidas e precisamos treinar forte.”

Apontada como uma das melhores e mais modernas pistas de canoagem slalom do mundo, o circuito de Deodoro passou quase um ano fechado. Em agosto, reportagem do Estado mostrou que a água havia ficado esverdeada por falta de tratamento e manutenção. Até mesmo jacarés foram retirados de lá.

A prefeitura do Rio recuperou o local e o equipamento vai receber em setembro o Mundial da categoria. O fato de poder treinar no mesmo local da competição mais importante do ano é comemorado pelos atletas brasileiros.

“Tem muita vantagem. O grande fator é você treinar na pista que vai competir. Se o Mundial fosse na França, a gente ia ter que treinar lá o máximo que pudesse. Como é no Brasil, estamos treinando muito mais que os outros”, comenta Pedro Henrique Gonçalves, o Pepê, finalista nos Jogos do Rio, em 2016.

Desde dezembro, Ana Sátila e Pepê treinam com a equipe em Deodoro de segunda a sábado, pela manhã. À tarde, três vezes por semana, o grupo utiliza os equipamentos do CT Time Brasil, no Parque Aquático Maria Lenk. Antes, a equipe treinava em Foz do Iguaçu, mas em condições abaixo das ideais. Assim, a CBCa buscou apoio do COB.

“A equipe enfrentava dificuldades em Foz do Iguaçu, mais até em função do volume de água da represa. Isso dificultava às vezes principalmente no período de inverno europeu, que dificultava treinamentos fora do País”, explica Jorge Bichara, gerente geral de Alto Rendimento do COB. “Nosso investimento está relacionado a questões de logística e eles fazem uso do Maria Lenk para o treinamento fora d’água e para fase de recuperação, além da parte de musculação e as avaliações que fizemos no nosso laboratório.”

Para Cássio Petry, técnico da seleção brasileira de canoagem slalom, os treinos em Deodoro têm potencial de colocar a modalidade em outro patamar. “Nossa equipe é forte, mas tenho certeza de que vai crescer muito. É um grupo de elite, alguns tiveram boa participação no Rio, e com essa volta do canal de Deodoro, juntamente com a estrutura do COB, vamos ter um grande crescimento.”