Diante da difícil tarefa de arrumar mais fontes de arrecadação para fechar as contas em 2024, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a indicar que, mesmo que o resultado fiscal não alcance a meta de neutralidade no ano que vem, o governo ganha tempo se mostrar esforço na direção do equilíbrio fiscal. “Mesmo não sendo zero o resultado fiscal de 2024, se o governo fizer o esforço de ir nessa direção, ganha um tempo. Mas, em algum momento, vamos ter que enfrentar a questão verdadeira, que é nosso gasto estrutural maior do que o de emergentes”, disse em entrevista ao Amarelas on Air, da revista Veja.

Campos Neto afirmou que a interlocução com o Ministério da Fazenda sempre foi boa e que o ministro Fernando Haddad tem feito um bom trabalho no âmbito fiscal, mas que o País tem um problema histórico, não só desse governo, de dificuldade de cortar gastos estruturais. “Vejo esforço do governo nesse sentido. Precisa agora passar medidas de arrecadação. Vemos que sempre tem incerteza sobre esse processo”, considerou.

O presidente do BC voltou a citar o processo de “desancoragem gêmea”, conjunta de inflação e indicadores fiscais, cujas expectativas estão acima das metas estabelecidas. “À medida que as medidas de arrecadação forem aprovadas, vai ter melhora das expectativas. O ano de 2023 importa menos, as pessoas estão olhando para frente.”

Ele também voltou a dizer que, com a ancoragem fiscal, a queda de juros pode ser mais sólida e perene. “É difícil para o BC entrar em detalhes sobre como o governo precisa se comportar no fiscal. O que a gente precisa é passar a mensagem que precisamos ter um fiscal ancorado, para ter uma trajetória de Selic mais baixa.”

Campos Neto também repetiu que vários governos caíram na tentação de inflação maior para ajudar fiscal, mas que essa atitude acaba prejudicando as camadas mais vulneráveis da população.