Campeão de Roland Garros em 2019, Kevin Krawietz se tornou notícia em todo o mundo por uma decisão bem distante das quadras. O alemão decidiu, de acordo com suas palavras, ter um “trabalho de gente normal” e passou a trabalhar em um supermercado ao invés de se dedicar apenas ao tênis, como faz a maioria de seus adversários.

Kevin Krawietz atualmente trabalha como funcionário de um supermercado em Munique, na Alemanha, apesar de possuir autorizações especiais, que lhe permitem treinar entre três e quatro vezes ao longo da semana, enquanto a temporada de tênis está suspensa por conta da pandemia do novo coronavírus. O atleta “agradece” por estar exercendo um “trabalho normal”.

“Dei-me ao luxo de converter o meu passatempo na minha profissão e agora quis viver a experiência de um trabalho normal. Tenho a oportunidade de fazê-lo por causa do coronavírus”, explicou Krawietz, em entrevista à revista alemã Der Spiegel.

O tenista, de 28 anos, que já recebeu cerca de 80 mil euros (R$ 488 mil) em 2020, passou a receber 450 euros (R$ 2,7 mil) por mês no novo trabalho. Krawietz contou como tem sido sua rotina de repositor. “Eu ordeno as prateleiras, me certifico de que as salsichas e o queijo estão bem estocados e jogo fora as caixas vazias”, explicou o atleta, que acrescentou: “Na semana passada, eu estava na segurança, na entrada, e limpei os carros com desinfetante”.

O alemão nasceu no dia 24 de janeiro de 1992, na cidade de Coburg, pertencente à região da Baviera, a aproximadamente 380 km da capital alemã, Berlim. Tomou gosto pelo tênis por conta de seus pais Rudolf e Ingrid, que introduziram o esporte ao garoto, em 1997, quando tinha cinco anos de idade. Desde então, o alemão não largou mais as raquetes. De 1998 a 2003, treinou com Zoran Obrovski e de 2003 a 2008 com Christian Hohn.

Em 2009, aos 17 anos, Krawietz deixou o interior da Alemanha para treinar em Munique, na Tennisbase Oberhaching. No mesmo ano, conquistou seu primeiro título em duplas de Grand Slam, o torneio Wimbledon Boys Doubles, ao lado do francês Pierre-Hugues Herbert, com quem seria campeão de mais dois ATP Challenger Tour, em 2015 e 2016.

Dez anos depois de seu primeiro título, Krawietz protagonizaria a vitória inédita de uma dupla formada por dois alemães em Roland Garros, ao lado de Andreas Mies. Por sinal, Krawietz e Miles formam o segundo time masculino da Era Aberta a conquistar o título de duplas em sua estreia, em Roland Garros.

A Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e a Associação do Tênis Feminino (WTA, sigla em inglês) suspenderam no dia 18 de março a temporada do tênis até 7 de junho. Enquanto isso, em harmonia com seu trabalho, Krawietz aproveita para refletir sobre seu bom momento no esporte e lembra que nem sempre teve o privilégio de performar dentre os melhores.

“Certa vez, ganhei um torneio na Itália, pouco mais de mil euros em uma semana. Mas é preciso descontar os impostos, as despesas de viagem e o treinador e acaba não sobrando grande coisa”, contou o alemão.

Portanto, o atleta sabe que atuar nas posições inferiores do ranking não é algo simples. Esse é um dos motivos para que Krawietz apoie o fundo lançado pelo sérvio Novak Djokovic, que tem o intuito de ajudar financeiramente os jogadores das categorias inferiores. “Certamente (o fundo) ajudará um certo número de jogadores a poderem sobreviver. Mas, independentemente do coronavírus, seria bom se pudéssemos permitir que jogadores classificados além do 100.º lugar no ranking mundial vivessem melhor”, disse.

Krawietz é, atualmente, o 13.º colocado do ranking da ATP e garante que permanecerá em seu novo trabalho até a normalização do circuito profissional. Ele conquistou o primeiro lugar na categoria de duplas, em 2019, ao lado de Andreas Mies.