13/09/2017 - 10:15
Com mais de 500 séries de televisão por ano, conquistar um Emmy não exige apenas uma produção de grande qualidade, como também um lobby muito bem feito.
Richard Licata, presidente da empresa de marketing e comunicação Licata & Co, e consultor em premiações por mais de 25 anos, explica que as campanhas pelos prêmios são cada vez “mais frenéticas e competitivas”.
“Há mais emissoras que nunca”, afirmou à AFP.
“Ganhar um Emmy ou qualquer tipo de grande prêmio é um grande mecanismo de promoção de marca e uma medalha de honra. Mas é cada vez mais difícil diferenciar-se do restante”, disse.
Licata, um dos mais de 21.000 eleitores da Academia da Televisão, foi responsável pela primeira campanha em outdoors para o Emmy quando trabalhava para o canal Showtime em 2006.
“Agora, quando estava dirigindo pelo Sunset Boulevard para um almoço, cada outdoor era um ‘para a sua consideração’. Que diferença uma década faz”, completou.
E não foi apenas a tentativa de promover as séries que explodiu, segundo Licata, que tem desde maio uma montanha de 54 DVDs empilhados em seu escritório.
“Tenho que assistir aos programas se quero votar de modo responsável”.
– Capitólio soviético –
Cartazes, propagandas na TV e até mesmo os nomes dos programas em xícaras de café são parte da típica promoção, mas as produções das séries se viram obrigadas a inovar para estabelecer uma diferença na multidão.
Talvez a campanha mais criativa do ano seja a da plataforma de streaming Hulu, que colocou dezenas de mulheres vestidas com capas vermelhas e chapéus nas ruas de Los Angeles para promover a série “The Handmaid’s Tale”, aclamada pela crítica.
A rival Amazon reservou o Hollywood Athletic Club por duas semanas para exibições e debates, além de um bar temático de “Goliath” e uma sala de jogos inspirada em “Sneaky Pete”.
O Netflix criou um quartel-general de campanha – um espaço de 2.230 metros quadrados chamado “FYSee” – em Beverly Hills, onde oferece bebidas, além de uma área para fotografias na qual as pessoas podem posar com as bicicletas das crianças de “Stranger Things”.
Conseguir grandes manchetes na imprensa é um modo mais tradicional e econômico: as emissoras não parecem poupar esforços para aparecer nas páginas dos jornais e revistas em sua campanha para os Emmy.
O Netflix, por exemplo, garantiu uma boa cobertura quando anunciou em agosto a contratação da produtora Shonda Rimes, que trabalhou durante 15 anos para a ABC, onde criou sucessos como “Grey’s Anatomy”, “Scandal” e “How to Get Away with Murder”.
Também virou notícia a doação da sitcom “Mom”, da CBS, de 250.000 dólares – o orçamento total do programa para o marketing do Emmy – para a Planned Parenthood, organização que oferece atendimento para saúde reprodutiva.
O canal FX também capitalizou a atenção – no momento em que muito se fala da influência russa nos Estados Unidos – publicou um anúncio para a série “The Americans” com uma advertência sobre espiões enviados por Moscou.
Também exibiu um comercial de televisão misterioso em que, sem mencionar o nome do show, mostrava o Capitólio com uma bandeira soviética.
– Programa favorito –
Os analistas estão divididos, no entanto, sobre a real influência do lobby nas indicações e vencedores.
Jeetendr Sehdev, especialistas em marcas e autor do livro “The Kim Kardashian Principle”, acredita que o efeito das campanhas para o Emmy é melhor em aumentar a consciência a longo prazo sobre os programas do que em assegurar estatuetas.
De acordo com uma pesquisa realizada por Sedev em 2014 com 2.000 americanos, 50% afirmaram que, se fossem membros da Academia, estariam dispostos a assistir uma série depois de ver a campanha, mas menos de 10% mudariam o voto sobre o programa favorito.
Josh Schwartz, criador de “Gossip Girl” e “The O.C.”, está há 20 anos na TV e nunca chegou perto de ganhar um Emmy – o que, afirma, não o incomoda nem um pouco.
“Nós só conseguimos chegar ao Teen Choice Awards. Isto foi o máximo que conseguimos. Mas não é tão importante para nós. Nosso objetivo é ser o programa favorito de alguém”, disse à AFP.