IMPULSIVO Ciro Gomes desperta amor ou ódio: perigo para ele mesmo (Crédito:Nacho Doce )

A violência política marcou de forma indelével a eleição presidencial de 2018. É natural, portanto, que haja uma maior preocupação das autoridades da área de segurança com a integridade física dos candidatos no pleito de 2022. Houve agressões e até morte em todo o País na disputa de quatro anos atrás por cargos executivos e legislativos, mas nada poderia sobrepor-se ao atentado sofrido por Jair Bolsonaro, na cidade mineira de Juiz de Fora, até porque ele era postulante à função de primeiro mandatário do País. Na mesma época, a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi recebida a tiros no interior do Paraná. Outro ingrediente explosivo, entretanto, ajuda a elevar essa preocupação a níveis estratosféricos: de 2018 para cá mais que dobrou o número de armas de fogo em circulação e há hoje no País cinco vezes mais pessoas com licença para posse de armamento do que havia no pleito anterior. Diante desse cenário, a Polícia Federal, órgão ao qual cabe a responsabilidade pela segurança dos presidenciáveis, já iniciou a elaboração dos planos individuais para cada um deles. Nessa eleição a instituição vai trabalhar com uma escala de um a cinco para definir o grau de risco que ronda cada candidato. A maior preocupação é com a segurança de Lula, no momento grau cinco, que aponta para risco máximo. Ciro vem logo em seguida.

Os graus de risco são atualizados constantemente de acordo com um conjunto de variáveis do qual fazem parte, por exemplo, ameaças ao longo da campanha, o nível de exposição dos candidatos em agendas específicas, e até mesmo características da personalidade de cada um: se possui maior ou menor impulsividade e se costuma ou não seguir as regras impostas pela segurança. A partir da classificação na escala de riscos é que a PF define o planejamento de segurança e do efetivo de agentes, que pode chegar a até trinta policiais federais por candidato. No caso do Lula, a tendência é de que a equipe de sua proteção esteja entre vinte e sete e trinta policiais. A PF também vai lançar mão de agentes infiltrados para monitoramento de eventuais ameaças.

Cada presidenciável pode escolher o próprio coordenador da segurança e os demais integrantes da equipe, a partir de um rol de nomes indicados pela PF. A ideia é dar mais confiança às legendas em relação aos policiais. Ainda no caso de Lula, a equipe do vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), está participando de forma ativa das consultas – entre os especialistas ouvidos está o ex-superintendente da PF na Amazônia Alexandre Saraiva, que recentemente se filiou ao PSB na disputa de uma vaga na Câmara. Pelo fato de ser ex-presidente, Lula também conta com proteção pessoal, definida em lei — ex-mandatários podem se valer de “quatro servidores, para segurança e apoio pessoal, bem como de dois veículos oficiais com motoristas, custeadas as despesas com dotações próprias da Presidência da República”. Mesmo assim, no entanto, haverá reforço extra pago pelo PT. Já em relação a Bolsonaro, a segurança do presidente da República fica a cargo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sob o comando do general Augusto Heleno.

“Bolsonaro clama por um atentado contra a vida de Lula e Alckmin”, diz o senador Randolfe Rodrigues (Rede), coordenador da campanha do petista. Em entrevista ao UOL News, afirmou que o presidente “articula, sabota e cria as condições” para que algo do tipo aconteça, e citou dois episódios recentes de “tentativas de agressões” em atos de campanha realizados pelo PT. No início do mês passado, na cidade mineira de Uberlândia, apoiadores do ex-presidente foram atingidos por fezes e urina despejados de drones. Há dez dias, em São Paulo, dois homens invadiram um evento público da campanha e tentaram se aproximar do petista. Dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) mostram que casos de violência contra políticos aumentaram mais de 400% nos últimos quatro anos — de 20 ocorrências, no primeiro trimestre de 2018, para 113, no primeiro trimestre de 2022. E certamente contribuem, para esse perigoso estado de coisas, políticas de Estado como a defesa da população armada.

FLAGRANTE PM conduz provocador infiltrado em evento do PT: tática antiga (Crédito:Ettore Chiereguini)