A campanha para que o Reino Unido permaneça na União Europeia foi suspensa nesta quinta-feira em função do assassinato da deputada trabalhista Jo Cox.

A deputada britânica, de 41 anos, mãe de dois filhos, foi atacada a tiros em Birstall, no norte da Inglaterra, e morreu em decorrência dos ferimentos pouco depois, em um hospital de Leeds.

O Reino Unido não registrava o assassinato de um político desde os anos 1980 e o começo dos 1990, quando eram alvo do IRA (Exército de Libertação Irlandês).

Cox era partidária da permanência do país na União Europeia e, segundo vários meios de comunicação, seu agressor gritou “Reino Unido primeiro!”, um lema da ultradireita britânica.

Clarke Rothwell, proprietário de um café situado na região, disse à agência britânica Press Association (PA) que o autor dos tiros gritou “Britain first!” (Reino Unido primeiro!), lema da extrema direita britânica.

A polícia não confirmou esta versão.

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Outras duas pessoas ficaram levemente feridas no ataque cometido por um homem de 52 anos e identificado como Tommy Mair. O agressor foi detido pela polícia no local do ataque.

Scott Mair, irmão do agressor, disse ao Daily Telegraph que Tommy sofreu de problemas mentais, mas foi devidamente tratado.

“Não posso acreditar no que aconteceu. Meu irmão não é violento e não se mete em política. Teve problemas mentais, mas recebeu ajuda”.

Após a notícia da morte, começaram a multiplicar as homenagens no Reino Unido e em toda a Europa.

Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Jonh Kerry expressou seu “profundo pesar em ver que uma jovem parlamentar, que era uma jovem mulher com um talento imenso, foi morta no exercício de suas funções. É um ataque contra todos aqueles que consideram a democracia importante”.

Por esta razão, “suspendemos todos os atos de campanha durante o dia. Nossos pensamentos estão com Jo Cox e sua família”, afirmou a campanha “Vote In” em seu Twitter, antes da confirmação da morte da deputada.

Em Londres, dezenas de pessoas se reuniram em frente ao Parlamento, entre eles o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, e vários outros dirigentes do partido, que compareceram com lágrimas nos olhos.

“Era uma militante corajosa, uma voz para os que não têm voz. Estamos comovidos com esta perda”, disse à AFP Fatima Ibrahim, pertencente ao movimento cidadão Avaaz.

O viúvo, Brendan Cox, pediu para “lutar contra o ódio que matou Jo”.

“O ódio não tem credo, raça, nem religião, é venenoso”, afirmou.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, também anunciou o cancelamento de um comício a favor da União Europeia em Gibraltar.


“A mim parece melhor que se tenha suspendido a campanha devido ao terrível ataque contra Jo Cox. Não irei ao comício desta noite em Gibraltar”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro, que já se encontra nesse encrave britânico no sul da Espanha.

Advertências contra o Brexit

Até o ataque contra Cox, o dia era agitado pela divulgação dos resultados de uma pesquisa dando aos partidários do Brexit uma vantagem no referendo.

O Fundo Monetário Internacional advertiu na quinta-feira que se o Reino Unido aprovar sua saída da União Europeia no referendo que será realizado na semana que vem, os mercados serão afetados, dificultando o crescimento econômico.

“Uma votação a favor da saída da UE poderá precipitar um período de alta incerteza, volatilidade nos mercados e um crescimento mais lento, enquanto que o Reino Unido negocie sua nova relação com a UE”, disse Gerry Rice, porta-voz do FMI, em uma coletiva de imprensa.

Já a chanceler Angela Merkel declarou que não pode “imaginar que isso (a saída) seja uma vantagem” para os britânicos.

O Banco da Inglaterra (BoE) considerou, por sua vez, que “se o Reino Unido abandonar a UE, a libra esterlina cairá mais, ou até pronunciadamente”.

O Financial Times, o jornal econômico britânico, declarou, sem surpresa, ser a favor da permanência na UE, uma posição contrária a do tabloide The Sun, que chamou seus leitores a escolher o Brexit.

“Abandonar a causa de uma reforma construtiva da Europa, que é verdade que é imperfeita, seria derrotista. Seria um ato gratuito de auto-mutilação”, escreveu o Financial Times em seu editorial.

O jornal acusou ainda a campanha pelo Brexit de ser “superficialmente patriótica e mentirosa”, principalmente por minimizar os custos da ruptura e dramatizar os da permanência.

“Somos a Grã-Bretanha. Temos uma contribuição a dar para um mundo mais próspero, mas seguro”, sentenciou o jornal.

A revista The Economist, por sua vez, informou que a UE “é um clube imperfeito e, às vezes, enlouquecedor. Mas é muito melhor do que a alternativa. Acreditamos que abandoná-lo seria um terrível erro”.


Muito esperada, a pesquisa Ipsos-Mori, realizada por telefone de 11 a 14 de junho com 1.257 pessoas, apontou pela primeira vez uma liderança do “Leave”, com 53% contra 47%, enquanto o instituto Survation constata uma vantagem de 52% contra 48%, sem contar os indecisos.

Com estes, os resultados de quatro consultas telefônicas em menos de uma semana coincidem em dar vantagem ao campo do Brexit.

De qualquer forma, alertou o Ipsos, 20% dos entrevistados admitiram que poderiam mudar de ideia nos próximos sete dias.

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