O dono da SpaceX, ElonMusk, é um grande defensor da tese. Para ele, o principal desafio tecnológico da nova corrida espacial será a reutilização de foguetes e de outras máquinas voadoras. É o que ele vem fazendo com seu Falcon 9. Sem o reaproveitamento total ou da maior parte deles em dezenas de voos consecutivos e com garantia máxima de segurança, não há prosperidade no negócio. Só assim a equação de custos se fechará e as viagens se popularizarão. Jeff Bezos, fundador da Blue Origin, que pretende subir a mais de 100 quilômetros de altura na terça, 20, com o foguete autônomo New Shepard, também pensa muito na reutilização — o estágio inicial de sua nave retornará de maneira controlada para o solo e pronto para outras missões. Richard Branson, magnata no comando da Virgin Galactic, que, há uma semana, fez o voo pioneiro dos bilionários astronautas, alcançando 86 quilômetros de altitude, vai reutilizar o jato porta-aviões e o avião espacial VSS, que compõem a SpaceShipTwo, várias vezes e otimizar seus custos. Ele pretende fazer 400 desses programas espaciais por ano e vender um lugar nas suas naves a US$ 250 mil.

No passado, os foguetes eram descartados após a primeira missão e isso inviabilizava a oferta de qualquer voo tripulado em escala comercial. Boa parte do investimento realizado simplesmente desaparecia e era impossível amortizar os custos de lançamento, principal restrição ao negócio espacial, para ter um preço de carga atraente em uma operação comercial. Para os especialistas, a reutilização de forma eficaz dos foguetes e de outras espaçonaves é um salto tecnológico fundamental que pode reduzir o custo de acesso ao espaço em até cem vezes, mas só nesses primeiros movimentos de concorrência privada já foi diminuído em cerca de 25 vezes, segundo a Nasa. Números da agência indicam que os custos de um lançamento comercial de um satélite na Órbita Terrestre Baixa (LEO) caiu, em 20 anos, de US$ 54,5 mil por quilo nos seus ônibus espaciais para US$ 2,7 mil por quilo no Falcon 9. Para conseguir isso foram indispensáveis importantes inovações de design, uso de controladores autônomos e sensores para a realização de pousos propulsivos e enormes avanços no desenvolvimento de materiais resistentes e duráveis. Além disso, há um importante processo de miniaturização de peças e equipamentos e o uso de software livre.

ALEGRIA Branson comemora o início da era do astronauta amador: muita preocupação com os custos e pouca com o meio ambiente (Crédito:VIRGIN GALACTIC )

A meta é fazer um veículo totalmente reutilizável e com o máximo de autonomia, como não foi feito até agora. Embora as três espaçonaves usadas na corrida ao espaço tenham essa característica de reuso pelo menos parcial, ainda há muito a se evoluir. Em maio, o primeiro estágio do Falcon 9 cumpriu o seu décimo voo ao transportar mais um lote de 60 satélites Starlink que Musk está espalhando pelos céus. A SpaceX declarou que a maioria das peças do Falcon 9 resistirá a 100 lançamentos, embora algumas peças, por causa da alta exposição ao calor, tenham que ser substituídas a cada 10 lançamentos. O New Glenn, cargueiro da Blue Origin, foi projetado para realizar 25 ciclos de voo.

Há pouco mais de um ano, Musk afirmou que a futura nave SpaceX de 100 passageiros terá um custo de operação de US$ 2 milhões — US$ 900 mil de propelentes (combustível e comburente) e US$ 1,1 milhão em outros custos — para voos orbitais. Ainda que só pretenda enviar um voo com turistas em setembro, a SpaceX é a mais avançada tecnologicamente nessa disputa e o Falcon 9 voa a uma altura de 400 quilômetros, onde se localiza a Estação Espacial Internacional (ISS). Seu foguete é muito mais potente que o dos concorrentes, limitados a voos suborbitais. O voo de Bezos durará 11 minutos até a Linha de Kármán, fronteira do espaço sideral, e será autônomo, sem pilotos. O magnata viajará com seu irmão Mark e a instrutora de voo Wally Funk, 82 anos, mulher mais velha a ir para o espaço.

Branson, por sua vez, dois dias depois de seu voo inaugural demonstrou alguma fraqueza comercial e fez um pedido para vender R$ 500 milhões em ações para financiar seus projetos. Apesar da missão bem sucedida, as ações da Virgin Galactic caíram 17,3%%. A tecnologia de Branson tem características de leveza e design que fazem suas viagens parecerem simples e seguras, mas os investidores estão desconfiados de sua capacidade financeira para garantir a escala do projeto.

Camada de ozônio

A enorme preocupação com a redução de custos ofusca os riscos ambientais envolvidos nas viagens ao espaço. Diante da “conquista da humanidade”, os bilionários astronautas não tocam no assunto, mas seus foguetes são altamente poluidores. A maior ameaça detectada, além da emissão de gases do efeito estufa e do aumento do lixo espacial, é a destruição da camada de ozônio, que protege o planeta da radiação ultravioleta. O problema crucial é o combustível. Os projetos da SpaceX e da Blue Origin utilizam apenas propelentes líquidos e a Virgin uma combinação híbrida. Nos dois casos há liberação de gases como óxidos de nitrogênio e compostos clorados que afetam a camada de ozônio. Em 2020 aconteceram 114 lançamentos orbitais no mundo, mas esse número tende a crescer muito daqui para frente. Está claro que na nova corrida espacial, além de desenvolver tecnologias para cortar custos operacionais e foguetes reutilizáveis mais baratos, será fundamental encontrar formas de preservar o meio ambiente.

NASA

Um grande passo

A missão Apollo 11, que levou o homem pela primeira vez à Lua, atingiu a sua meta no dia 20 de julho de 1969, há 52 anos, quando os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin pousaram o módulo Eagle no satélite e caminharam pela superfície lunar. Enquanto isso, o terceiro astronauta da missão, Michael Collins, pilotava o módulo de comando Columbia na órbita lunar e aguardava os companheiros. Apesar do sucesso tecnológico e científico na missão, ela não foi suficiente para impulsionar uma corrida espacial nas décadas seguintes.

E seu principal problema eram os custos. A Nasa destinou, entre 1959 e 1973, US$ 23,6 bilhões para o programa Apollo, o que equivale a US$ 131,7 bilhões atuais. Os altos custos para os lançamentos de foguetes, que não eram reutilizáveis, foram decisivos para o abandono do maior programa espacial da Nasa.

NASA/Johnson Space Center