Impedir uma senhora de fazer sua mamografia, agendada e aguardada há quatro meses, é crime.

Impedir a mãe de um recém-nascido levar seu bebê, para tratar de uma febre alta no posto de saúde, é crime.

Impedir um idoso que infartou – e veio a óbito mais tarde – de chegar a tempo no pronto socorro, é crime.

Impedir um transplantado de realizar sua hemodiálise, ou um canceroso de realizar sua quimioterapia, é crime.

Impedir o transporte de bens e serviços; de medicamentos e produtos perecíveis; de valores ou outras cargas, é crime.

Impedir os pais de chegarem à tão aguardada formatura do filho; os noivos de embarcarem na lua de mel paga com tanto suor, é crime.

Impedir os milhões de diaristas (domésticas, cuidadores, operários etc.) por todo o Brasil, que precisam do dinheiro para comer, é crime.

Impedir estudantes e trabalhadores de acessarem suas escolas e empregos; médicos de chegarem aos hospitais e bombeiros, aos quartéis, é crime.

Eu poderia escrever dias e dias seguidos apontando os crimes cometidos pelos marginais golpistas a serviço do atual presidente da República.

Crime contra a economia, crime contra a saúde pública, crime contra a democracia, crime contra o Estado de Direito e, por que não?, crime contra a humanidade.

Não há nada que justifique ou relativize o crime e os criminosos, senão a índole equivalente de quem assim o faz. Ou medo. Ou interesse. Como não tenho nada disso…

Nem mesmo se fosse uma luta legítima por melhores salários, fretes, condições de trabalho, precariedade das estradas se justificaria algo assim.

Sendo mera inconformidade com o resultado legal, democrático e legítimo das urnas, tanto mais grave, tanto pior.

Aliás, o próprio “mito”, semeador, cuidador e beneficiário deste movimento golpista criminoso, reconheceu assim.

Naquele patético, obsequioso e cúmplice balbuciar de duas ou três frases, em dois minutos comparou – como eu havia feito – o movimento ilgeal aos terroristas do MST.

Crime não é exclusividade de assassinos, traficantes, ladrões e/ou políticos apenas. Médicos cometem crimes, policiais cometem crimes, eu e você cometemos crimes.

Sabem quem mais? Enfermeiros, professores, advogados, empresários, jornalistas e até padres, rabinos, pastores, xamãs e pais de santo. Ah, sim: caminhoneiros!

E estes criminosos que estão (segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, amparado nas leis constitucionais do País) impedindo o trânsito são criminosos.

O crime não tem exclusividade. Criminosos não representam categorias. Quem descumpre as leis, prejudica a sociedade e, no limite, mata pessoas, é criminoso, sim.

Os caminhoneiros são criminosos? Não. Criminosos são os… criminosos! Ainda que sejam caminhoneiros.