Poluir menos é o desafio do mundo. Os compromissos globais assumidos para descarbonizar a economia vem mudando muito a rotina das montadoras, principalmente do setor de desenvolvimento de tecnologia para veículos de carga. No Brasil, circulam 3,5 milhões de caminhões, de acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito do Ministério da Infraestrutura, e apesar de representarem apenas 2,5% da frota total, a grande maioria roda a diesel, combustível dez vezes mais poluente que a gasolina. Além de uma preocupação maior com a redução nas emissões de CO2, surgem no mercado alternativas mais verdes nas ruas. Caminhões elétricos e a gás já entraram em escala comercial, mas em versões urbanas para cargas leves. No Brasil, empresas comprometidas com o meio ambiente começaram a substuir as frotas, como é o caso da Danone, que anunciou a troca dos veículos de carga das distribuidoras nos municípios de Guarulhos e Jundiaí por modelos elétricos. O grande desafio das montadoras, no entanto, são os caminhões pesados, com capacidade para carregar cargas acima de 25 toneladas e com autonomia para percorrer até mil quilômetros.

A grande aposta dessas empresas é a eletrificação. No final de 2021, começaram a ser testados protótipos recarregáveis por cabos aéreos, que lembram os dos trólebus no Brasil. Os modelos rodam em estradas adaptadas a essa infraestrutura, como a rodovia B462, na região de Rastatt, Baden-Württemberg, na Alemanha. Há também como opção a eletrificação a partir de células movidas por hidrogênio. Em vez de ligar o veículo na tomada, como já acontece com automóveis, o caminhão abastece o tanque com hidrogênio em estado líquido ou em gás comprimido.

NA TOMADA Modelo elétrico da Volvo para carga leve: abastecimento em postos, como os carros atuais (Crédito:Divulgação)

“O hidrogênio dá mais potência ao caminhão, que consegue transportar até 40 toneladas de carga”, afirma Mônica Saraiva, mentora de mobilidade a hidrogênio da SAE Brasil. A entidade realizou na quinta-feira, 28, um simpósio sobre a tecnologia de propulsão a hidrogênio. O tema é visto com bons olhos pelos técnicos brasileiros: “Além de ser eficiente, o método teria uma implantação razoavelmente fácil no País”, explica ela. Segundo a especialista, o hidrogênio pode ser obtido a partir do etanol, em um processo que ocorre dentro do caminhão ou antes de embarcá-lo. A novidade é promissora para o Brasil: estados do Nordeste já se preparam para produzir o hidrogênio verde. “Estamos realizando estudos de viabilidade em parceria com empresas”, diz Costantino Frate, coordenador de políticas públicas na área de hidrogênio no Ceará. “Temos inclusive capacidade para exportar esse hidrogênio produzido aqui.” Nos Estados Unidos, Japão e Alemanha já existem regiões com postos de hidrogênio. “Também será possível ter postos dedicados a esse combustível no Brasil”, ressalta Mônica.

CABOS Estradas adaptadas na Alemanha: estrutura lembra a dos trólebus nacionais (Crédito:Divulgação)

A Scania começou a testar essa tecnologia há dois anos, mas o fabricante optou por não ficar restrito a ela e desenvolver diferentes formas de tecnologia de propulsão. “Para o Brasil, trouxemos os caminhões a gás. Nossos veículos de cargas pesadas têm a mesma performance que os modelos a diesel”, diz Paulo Genezini, gerente de sustentabilidade da Scania Brasil. Apesar de ser um combustível fóssil, ele é menos poluente e pode ser substituído pelo biometano, produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar. “O Brasil é uma potência agrícola e teria capacidade para substituir 75% do diesel.” Foram investidos R$ 21 milhões para trazer essa tecnologia para o Brasil.

Assim como as demais montadoras, a empresa também aposta nos veículos elétricos e, mais recentemente, aprimorou a pesquisa sobre os caminhões autônomos. Nessa semana a Scania apresentou o primeiro modelo de caminhão autônomo na Agrishow, maior feira de tecnologia do setor, em Ribeirão Preto, interior do Estado. O modelo vai entrar em operação dentro dos campos de plantação das usinas de cana-de-açúcar, mas é movido a diesel. É um processo gradual e lento: se uma tecnologia verde viável fosse aprovada hoje, os especialistas calculam que, em 2035, apenas 10% da frota seria substituída.