James Cameron, o criador de sucessos cinematográficos como “O Exterminador do Futuro”, “Aliens” e “Titanic”, foi um dos pioneiros do uso de novas tecnologias na sétima arte, mas em uma entrevista à AFP em Paris disse que se vê como um “dinossauro”, porque ainda gosta do lápis e do papel para imaginar suas histórias.

“L’Art de James Cameron” é uma exposição que foi aberta nesta quinta-feira (4) na Cinemateca Francesa e ficará em cartaz até janeiro. O visitante poderá explorar os rascunhos que Cameron desenhou desde sua infância até a saga “Avatar”.

Qual importância o desenho tinha em sua infância?

O desenho era tudo. Era como processava o mundo. Lia, via filmes, absorvia toda a narração e depois simplesmente tinha que contar a minha versão. Lembro muito claramente que aos oito ou nove anos fui ver o filme “A Ilha Misteriosa”. Fiquei assombrado pelas grandes criaturas e o caranguejo gigante, mas quando voltei para casa não desenhei “A Ilha Misteriosa”: desenhei minha própria versão com animais diferentes.

Lembro também que no Ensino Médio levava muito a sério a disciplina de desenhar em todos os tipos de estilos diferentes. Criei minhas próprias histórias em quadrinhos. Pensei que talvez escrevesse um romance e o ilustraria. Ainda não existiam os romances gráficos, mas estava pensando em quadrinhos… então eu realmente tinha planos. A transição para o cinema foi bastante fácil.

Como esses primeiros desenhos inspiraram seus filmes?

(Meu primeiro desenho de “Avatar”) fiz quando tinha 19 anos, portanto já faz 50 anos. Esse desenho me levou a pensar em um mundo bioluminescente e escrevi uma história sobre isso no final dos anos 70. No início dos 90, quando fundei uma companhia de efeitos visuais e estávamos tentando fazer personagens e criaturas geradas por computador, necessitava de um roteiro sobre outro planeta, então encontrei esse trabalho artístico e isso se tornou “Avatar” — em 1995.

A imagem de “Exterminador do Futuro” me veio em um sonho. Estava doente, tinha muita febre e nesse sonho febril vi um esqueleto cromado emergindo de um incêndio. O desenhei de imediato. E depois pensei: “Como chego ali? Como era antes?”. E instintivamente soube que parecia humano antes do fogo.

Quando era criança tinha sonhos de passar por túneis aquáticos em grande velocidade, como um sistema circulatório, que terminavam no abismo. Tive um pesadelo sobre estar em uma casa onde as paredes estavam cobertas de vespas que me matariam, isso se tornou uma cena de “Aliens” onde ela corre em direção à câmara dos ovos.

Acredita que as crianças estão perdendo essas habilidades por causa da tecnologia?

Não acredito que possamos retroceder, mas acredito que é importante que as pessoas desconectem de vez em quando. É importante passar tempo na natureza, passar tempo consigo mesmo, simplesmente acalmar a mente. As pessoas são muito criativas, mas se constantemente estão sendo bombardeadas pela criatividade de outras pessoas com filmes, jogos, isso tende a contê-las.

O desenho está se tornando uma arte perdida. Inclusive os artistas que trabalham comigo geralmente não usam lápis e papel. Me consideram um dinossauro porque chego e desenho algo, mas eu tenho que senti-lo com linhas e texturas.

A inteligência artificial te preocupa?

O problema é que há diversos tipos de IA, algumas das quais ainda não chegaram. A Inteligência Artificial generativa é uma grande incógnita. Acredito que definitivamente deveríamos frear nesse campo.

Em termos de IA generativa… isso é realmente interessante porque os dados que recolhem são todas as imagens que os seres humanos criaram. Estamos exibindo nosso subconsciente, que volta para nós através dessas imagens. Por isso são tão convincentes, porque realmente somos nós em grande medida. Acredito que o artista humano vai se tornar mais importante.

Pode nos dar pistas sobre “Avatar 3”?

No terceiro filme estamos em um momento de transição entre lutar pela sobrevivência da Terra e de Pandora. Estamos explorando outras culturas no planeta e consolidando a história do vilão. Há um monte de coisas novas que acontecem com a família Sully… e apresentamos um novo personagem que logo se torna uma parte importante da história. Tem que recordar que isso é um arco narrativo que vai de um até cinco, e estamos justo no meio.

Mas posso prometer isso: Seja o que pense que vai ser, não vai ser.

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