Camarote do SPFC: MP é acionado para investigar venda ilegal de espaço no MorumBis

Espaço teve uso cedido a uma intermediária, que cobrou judicialmente por valores não repassados por terceiros

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Estádio do Morumbis, casa do São Paulo Foto: @rummens

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) foi acionado para investigar a venda ilegal de ingressos em um camarote do MorumBis. O espaço no estádio do São Paulo não era comercializado oficialmente, mas teve o uso cedido a uma intermediária, que cobrou judicialmente por valores não repassados por terceiros e fez o caso se tornar público. O clube ainda não foi notificado e não se posiciona sobre a questão.

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A notícia-fato foi enviada à Procuradoria pelo grupo Frente Democrática em Defesa do São Paulo. Agora, o MP-SP avalia se há materialidade para iniciar um inquérito. Um áudio divulgado pelo ge mostra Mara Casares e Douglas Schwartzmann, então diretores do São Paulo, pressionando Rita de Cassia Adriana Prado, que vendia os ingressos do espaço, para que ela encerre a cobrança judicial a uma terceira pessoa que também atuou na venda de entradas.

“Os fatos noticiados indicam, em tese, a exploração clandestina de camarotes, obtenção de vantagens econômicas indevidas, além de tentativas de coação no curso de processo judicial, tudo corroborado por áudios públicos com declarações diretas dos próprios envolvidos. As condutas descritas afrontam princípios elementares da legalidade, moralidade, transparência e boa governança, que devem nortear a gestão de uma instituição do porte e da relevância social do São Paulo”, diz o grupo que protocolou o pedido, em nota.

A Frente Democrática já havia contatado o MP depois que uma denúncia anônima também solicitou uma investigação da direção são-paulina. O grupo solicitou que a Procuradoria não arquivasse o caso, como já aconteceu em outra notícia-fato contra a gestão do clube.

O MP-SP já questionou o São Paulo sobre quatro pontos destacados na denúncia anônima: venda de atletas da base abaixo do valor de mercado; déficit de R$ 287 milhões na temporada 2024; processo ilícito na parceria com a Galápagos no Fundo de Cotia e possível conflito de interesses no fato de o filho do presidente Julio Casares ser sócio de Aref Abdul Latif, agente de jogadores vinculados ao clube, em uma empresa do ramo para pets. “Nosso objetivo é assegurar que os fatos sejam apurados de forma independente, técnica e transparente, com a devida responsabilização de eventuais envolvidos, preservando o patrimônio moral, social e histórico do clube”, argumenta o grupo.

ENTENDA O CASO

O Estádio do MorumBis conta com diversos camarotes que são usados em jogos e shows. Um deles é o camarote 3A, espaço que não é comercializado e que fica em frente ao gabinete do presidente Júlio Casares. O local é conhecido por “Sala Presidencial”. Mara Casares e Douglas Schwartzmann, agora diretores licenciados do São Paulo, estariam envolvidos em um esquema de venda de ingressos do camarote 3A, uma ação não autorizada e que seria feita de forma “clandestina”, como os próprios diretores licenciados afirmam em áudio obtido pelo ge.

Nesta conversa, Mara e Schwartzmann falam com Rita de Cassia Adriana Padro, conhecida como Adriana, da The Guardians Entretenimento Ltda, que seria intermediária na venda e repasse das entradas desse camarote para terceiros. Adriana ingressou com um processo contra Carolina Lima Cassemiro, da Cassemiro Eventos Ltda, acusando-a de ter tirado de suas mãos 60 ingressos para um show da colombiana Shakira. Esses 60 tickets seriam comercializados por R$ 132 mil. No entanto, Adriana alega que recebeu apenas R$ 100 mil. Carolina diz que pagou o combinado, está sendo vítima de calúnia e teve prejuízos.

Ocorre que ao processar uma pessoa ou empresa por obter de forma irregular ingressos que foram gerados de maneira “clandestina” o caso se tornou público e passou a ser de conhecimento do São Paulo. Dada a situação, Mara e Schwartzmann pressionaram Adriana a retirar o processo para que a ação ilícita não se tornasse de conhecimento geral. Mara diz que os áudios estão fora de contexto e alega que “não obteve ganho próprio de nenhuma natureza”. Já Schwartzmann afirma que não teve “qualquer participação em venda, negociação ou comercialização de camarotes ou ingressos de eventos” e que agiu pontualmente para evitar que um problema particular afetasse o São Paulo.

O São Paulo, por sua vez, refuta a “existência de um esquema ilegal de venda de ingressos de camarotes” e abriu duas sindâncias para apuração dos fatos. Uma interna, conduzida pelos departamentos Jurídico e de Compliance. Outra é externa, sob comando de dois escritórios de auditoria independentes.

“Não defendo e nem pratico prejulgamento e condenação prévia. Acredito no amplo direito à defesa. Mas ressalto que, seja qual for o resultado da sindicância, vamos agir com rigor com quem quer que eventualmente seja apontado com conduta inadequada no Clube. Não há e nem haverá favorecimento por proximidade, amizade, parentesco, função ou alinhamento político”, reforçou Casares. As aberturas dos processos foram solicitadas pelo superintendente do clube, Marcio Carlomagno. Ele também é citado no áudio vazado, mas diz que apenas teve o nome usado indevidamente.