Barradas no baile. Numa das entradas do autódromo de Interlagos, três baladeiras produzidas dos sapatinhos coloridos às pontas dos cabelos escovados reclamavam de um amigo. Elas vieram de Brasília com a promessa de entrar no camarote dos festeiros no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, a Arquibancada Open Music. Chegando lá, as coisas não saíram como esperado. Acabaram ficando do lado de fora, vendo outros grupos de mulheres entrarem às dezenas em vans fretadas por convidados VIPs. Enquanto isso, o sertanejo universitário rolava solto dentro do evento, enquanto uma fina e intermitente chuva caía.
No circuito, a precipitação faria com que a corrida fosse uma das mais emocionantes de todos os tempos – com duas paralisações e praticamente metade da corrida atrás do carro de segurança, mas também um show de batidas e ultrapassagens. No camarote, o pé d’água era motivo de preocupações diferentes. As mais produzidas, zelosas do “look”, se viravam nos 30 para proteger a chapinha e ainda sair bem na foto. Acabado o GP, entretanto, mesmo com o tempo molhado, as 1,3 mil pessoas se descabelaram ao som das bandas Clima de Montanha (samba/pop) e Melanina Carioca (funk/pagode/hip-hop). “O evento superou as nossas expectativas, não esperávamos tanta gente com chuva”, diz o idealizador Filipe Azevedo. “Mas a corrida ajudou porque foi completamente bagunçada e acabou inflamando o público.”
Confira quem foi:
- Para o trio Luiza Hager, Juliana Deriva e Elisandra Deriva, a chuva não ajudou. “Se eu soubesse que estava tão forte, nem viria. A gente se derrete toda. Estraga o cabelo. E a capa ainda arruina o look.”
- A vendedora Camila Weiss, 22, e a cantora Bruna Figueiredo, 27, confessam que não gostam muito de F1. Mas que o chamado da balada é tão poderoso que compensa até o tempo ruim. “Tá na chuva, é pra se molhar.”
- A corretora Elisabeth Marinho, 28, fã de música eletrônica, admite que a chuva atrapalhou um pouco, mas, para ela, “se o visual estiver bom, vai chamar atenção mesmo com a capa por cima”.
- Empresário, Rafael Pizzonia, 31, bebia ao lado de Pamela Pedroso, 24, que trabalha em eventos, e um bando de amigos. Questionado sobre o que mais estava gostando, disparou: “ela”.
- No sábado, a pequena Nina, 5, foi acompanhada do pai, o engenheiro civil Armando Souza Pinto, 42. No domingo, ele iria com o irmão dela, Teo, 7. “Gostei do foguinho saindo debaixo dos carros”, contou a menina.
- Esteticista, Heloisa Fanaro, 25, e a fotógrafa Julie Oliveira, 22, compareceram pela “fama” que a F1 possui. “Nós queremos ver o Senna. E aquele brasileiro que está se despedindo, como é mesmo o nome dele?”
- Administradores, Julio e Cleusa Nogueira, 60 e 59, já foram ao GP em outro setor. Dessa vez, escolheram o camarote por conta do conforto e da comida. Pé de valsa, ela nem tentou convencer o marido: “danço sozinha”.
- As irmãs Isabela, 34, Daniela, 28, e Talita de Oliveira, 25, dizem que sempre quiseram ver a corrida de perto, mas que a festa ajudou na decisão. Aos risos, brincam: “pena que chuva estraga o cabelo”.
- O farmacêutico Luiz Carlos Miranda, 32, foi acompanhado da mulher, Mirian Oliveira Guimarães, 31. Juntos, apoiaram o inglês Lewis Hamilton. “Torço por ele, que representa a minha raça”, afirmou ela.
- A pedagoga Thais Cavalcanti, 27, havia acabado de conhecer o militar Paulo Cesar Santos, 38. “Estamos nos conhecendo melhor.” Os dois são habitués de baladas sertanejas, mas ela havia ido pela festa e ele pela velocidade.
- O perito judicial Antônio Lopergoto, 48, vai a Interlagos desde 1989. Faltou em 95, triste após a morte de Ayrton Senna. “Em outros países, há outros eventos na pista o tempo todo. Aqui não, então a música é um diferencial.”
- O publicitário Alan Ferrazza, 32, conta já ter entrado no autódromo de madrugada para dar umas voltas na pista, com ajuda de amigos da segurança. Dessa vez, ele foi com a contadora Tábata Furtado, 28.
Procurando até o fim do evento, a reportagem de ISTOÉ não viu dentro da festa as três amigas barradas do lado de fora.