Para entrar no Museu dos Reis Bamum no oeste de Camarões, tem que passar debaixo das presas de uma serpente gigantesca de duas cabeças, que faz parte de um imponente escudo de um dos reinos mais antigos da África subsaariana.

O reino bamum, fundado em 1384, é um dos mais antigos dessa região da África.

“Esse é um dos poucos reinos que consegue existir e manter seu caráter autêntico, apesar da presença de missionários, comerciantes e administradores coloniais”, explicou à AFP Armand Kpoumie Nchare, autor de um livro sobre o reino bamum.

Por isso, um museu assim é algo “único” para Camarões, considerou Nchare.

No sábado, o sultão Mouhammad Nabil Mforifoum Mbombo Njoya recebeu 2.000 convidados para a inauguração do museu na praça do Palácio Real em Foumban, capital histórica da dinastia Bamum, e milhares de camaroneses se reuniram nas imediações.

A família real foi ao evento vestida com trajes cerimoniais coloridos tradicionais.

Os narradores de histórias, conhecidos na África ocidental como griots, que usavam vistosas túnicas coloridas também foram ao ato. Tocaram tambores e flautas enquanto os soldados do palácio disparavam salvas para marcar a chegada dos convidados ilustres, incluindo ministros e diplomatas.

Depois, príncipes e princesas bamum dançaram a dança do Ndjah com túnicas amarelas e máscaras de animais.

– “Guardião e pioneiro” –

Para homenagear os bamum, o museu foi construído com o formato do escudo de armas do reino.

Uma obra de arte de mais de 5.000 metros quadrados fica no topo do edifício, cujas entradas representam a serpente de duas cabeças.

“Esse é um festival para o povo bamum. Viemos de todas as partes para viver esse momento único”, comentou Ben Oumar, um telespectador de 50 anos.

“É um sentimento de orgulho participar desse evento. Esperamos por muito tempo”, acrescentou Mahamet Jules Pepore, funcionário.

O museu possui em sua coleção 12.500 peças, incluindo armas, tubulações e instrumentos musicais.

“Ela reflete a criatividade rica e histórica desse povo, tanto em termos de habilidade e arte, com os desenhos de bamum, quanto de inovações tecnológicas em vários períodos, com moinhos, prensas de vinho…”, disse o especialista Armand Kpoumie Nchare.

No local também são exibidos objetos da vida do soberano bamum mais famoso, Ibrahim Njoya, que governou de 1889 a 1933 e criou a escrita bamuna, um sistema com mais de 500 símbolos silábicos.

Agora, o público poderá observar seus manuscritos e uma máquina de moer milho que ele inventou.

“Rendemos tributo a um rei que foi ao mesmo tempo um guardião e um pioneiro (…) É uma forma de nos sentirmos orgulhosos do nosso passado para construir o futuro”, declarou o sultão Mouhammad, de 30 anos e bisneto de Njoya.

Para comemorar a obra de seu avó, o ex-sultão Ibrahim Mbombo Njoya começou a construção do museu em 2013, depois de perceber que os salões do palácio eram muito pequenos.

Recentemente, a Unesco incluiu os rituais do povo Bamum, chamados “nguon”, que são realizados durante um festival anual popular, em sua lista de patrimônio cultural intangível da humanidade.

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