Histriônico, eloquente e fundamentalista, Luis Fernando Camacho é o líder da rebelião da rica região de Santa Cruz, que pretende desbancar Evo Morales com uma bíblia em uma mão e uma carta de renúncia para o presidente da Bolívia na outra.

Presidente do Comitê Pró-Santa Cruz, um conglomerado de entidades empresariais, associações de moradores e trabalhadores de direita, Camacho é um advogado de 40 anos com mestrado em direito tributário na Universidade de Barcelona.

Camacho foi de Santa Cruz (leste) a La Paz na noite de segunda-feira para forçar Morales a assinar uma carta de renúncia que o próprio opositor escreveu, mas teve que voltar na manhã desta terça para sua terra de origem, impedido de sair do aeroporto pela presença de exaltados manifestantes governistas.

Algumas pessoas na Bolívia fazem uma analogia entre esse adversário de Morales, reeleito para um quarto mandato nas eleições contestadas de 20 de outubro, e o líder parlamentar da oposição da Venezuela Juan Guaidó, que colocou o presidente Nicolás Maduro sob controle, sendo reconhecido como presidente interino por cinquenta países.

Mas, ao contrário do líder venezuelano, Camacho ainda não tem apoio internacional explícito ou cargo público para lhe dar apoio a seu desejo de desafiar o presidente boliviano.

De família oriunda de Cochabamba, região central caracterizada por gente combativa, Camacho é membro de una empresa familiar imobiliária e outra avícola.

Ele se tornou o rosto mais visível da oposição boliviana após as eleições, embora não tenha concorrido à presidência, ofuscando o ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005), o segundo na votação.

Embora ninguém saiba ao certo se possui apoio de algum grupo político, Camacho formou sua liderança no comitê cívico da juventude de Santa Cruz, uma organização radical de direita e nas “fraternidades”, grupos carnavalescos elitistas.

Segundo o site Primera Línea, Camacho é membro dos Cavaleiros do Oriente, um grupo com grande influência em Santa Cruz.

– Ultimato –

No sábado passado, o líder regional deu a Morales um ultimato de 48 horas para renunciar, uma demanda que obviamente foi ignorada. Ele também pediu a intervenção dos militares na crise política, uma questão ultrassensível em uma nação que viveu de quarteladas e ditaduras militares antes de 1982.

O resto da oposição, incluindo Mesa, concorda com Camacho no pedido de anulação das eleições e na convocação de um novo pleito com um tribunal eleitoral imparcial.

– “Como Pablo Escobar” –

Camacho colocou na sombra muitos líderes de sua região, incluindo dois candidatos à presidência, o pastor evangélico coreano nacionalizado boliviano Chi Hyun Chung (terceiro na votação) e o senador de direita Oscar Ortiz (quarto).

O líder civil ordenou que seus seguidores ocupassem as ruas e prédios públicos.

Suas medidas são acatadas maciçamente em Santa Cruz, mas apenas parcialmente em outras regiões, como Cochabamba (centro), Tarija (sul) ou Potosí (sudoeste), onde fica a oposição andina a Morales.

Polêmico, Camacho declarou há alguns dias para seus simpatizantes: “Temos que fazer, salvando as diferenças, e pegar a agenda como fazia (o narcotraficante colombiano) Pablo Escobar, mas apenas para escrever os nomes dos traidores desta cidade, porque queremos que amanhã sejam prisioneiros, mas não por ressentimento e ódio, mas por justiça”.