Calamidade no RS: cultura da remediação se mostra outra vez ineficaz; é preciso prevenção, avaliam especialistas

Vista aérea de ruas inundadas em Porto Alegre, Brasil, tirada em 6 de maio de 2024, após tempestades torrenciais no Rio Grande do Sul
Vista aérea de ruas inundadas em Porto Alegre Foto: Carlos FABAL / AFP

Esta não é a primeira vez que o estado do Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas, mas cada episódio se mostra pior que o anterior. Os temporais que começaram na última semana de abril já deixaram 136 mortos e afetaram 437 municípios, que ficaram inundados, segundo o último levantamento divulgado pela Defesa Civil do estado.

Por conta disso, levantou-se novamente a discussão a respeito da necessidade de acabar com a cultura da remediação para que seja priorizada a prevenção. Em entrevista à ISTOÉ, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirmou que é preciso preparar tanto as cidades quanto a população para as crises climáticas, pois assim pode-se minimizar o número de pessoas desalojadas, de vidas perdidas e de momentos trágicos, como o que está acontecendo atualmente.

“Tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul há um baixíssimo investimento na área de prevenção. O governador Eduardo Leite (PSDB) tem a sua responsabilidade, pois fragmentou e fragilizou uma parte da legislação ambiental do estado gaúcho em 2019, mas também temos um congresso convencido de que a agenda climática deve ser derrotada”, completou.

A gerente de riscos climáticos e adaptação na WayCarbon, Melina Amoni, também apontou que as administrações municipais precisam estabelecer planos para prevenção das crises climáticas. Para isso é necessário analisar a ocupação habitacional próxima de encostas, rios e áreas de riscos; criar corredores verdes urbanos; gerenciar a eficácia de bacias hidrográficas no intuito de garantir água potável à população; realizar obras de infraestruturas eficientes e específicas para os sistemas de macrodrenagens que possam garantir drenagem e proteção contra inundações; entre outros.

Sistema de contenção

Pensando na preservação, foi projetado um sistema de contenção para suportar até seis metros de elevação do rio Guaíba, em Porto Alegre. Mas a cidade gaúcha foi inundada assim que atingiu a marca de cinco metros.

Há suspeitas de que a prefeitura tenha negligenciado a manutenção ao longo de décadas, já que o sistema está operando desde os anos 1960.

A ISTOÉ entrou em contato com a Prefeitura de Porto Alegre para comentar o caso, mas não obteve resposta até o momento. O espaço permanece aberto.