O grande desafio do crédito imobiliário no Brasil é funding, na opinião do diretor executivo de habitação da Caixa Econômica Federal, Teotônio Rezende. “A poupança e o FGTS são importantes instrumentos para viabilizar o acesso à habitação no Brasil, mas precisarão de reforços. Não vamos retomar o que tínhamos antes (na poupança)”, afirmou ele, durante o evento Summit Imobiliário, promovido pelo Estadão em parceria com o Secovi-SP.

O executivo criticou quem olha para o FGTS como uma fonte inesgotável de recursos. Segundo ele, muitos pensam dessa forma. “É preciso cuidado com a velocidade que usamos os recursos do FGTS para que não matemos a nossa galinha de ovos de ouro. Isso não está acontecendo, mas é preciso cuidado”, atentou Rezende.

Aproveitou ainda para reafirmar que não há uma bolha imobiliária no Brasil e que os preços estão caindo em alguns lugares, mas nada que preocupe. Criticou também o atual arcabouço regulatório do crédito imobiliário, que, na sua visão, precisa ser adaptado para a realidade brasileira. “Só fizemos remendos”, disse o diretor da Caixa.

Concessões

A Caixa estima queda de 3% em novas concessões de crédito imobiliário neste ano, totalizando cerca de R$ 87 bilhões, ante R$ 90 bilhões liberados em 2015, segundo Rezende. “A queda só não será maior por conta dos ajustes que fizemos com o aporte dos recursos liberados pelo Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)”, explicou Rezende, citando R$ 7 bilhões para a linha pró-cotista e R$ 6,7 bilhões para os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).

Sobre a inadimplência da carteira, o executivo afirmou que o cenário de crise no Brasil impactou até mesmo o crédito imobiliário, que há anos cultiva calotes em patamares bem abaixo do que outros segmentos, mas que o reflexo é pequeno. A Caixa, conforme ele, espera encerrar 2016 com inadimplência no imobiliário ao redor dos 2%.

O contexto, de acordo com Rezende, faz a Caixa ter uma postura ainda mais seletiva embora os prazos médios dos financiamentos estejam nos mesmos patamares habituais, sendo 25 anos para financiamentos com recursos do FGTS e 30 anos para aqueles no âmbito do sistema brasileiro de poupança e empréstimos (SBPE). O prazo máximo continua, segundo ele, em 30 e 35 anos, respectivamente.

Sobre um novo aumento de juros, o diretor da Caixa disse que o banco não cogita outra elevação neste momento. Disse também que a decisão, de subir a taxa no mês passado, foi tomada em dezembro de 2015 e não sob pressão das instituições privadas.

“Elevar juros é decisão de cada banco. Decidimos aumentar as taxas no crédito imobiliário em dezembro de 2015 e ficamos acompanhando o comportamento da poupança. Como não teve reversão, tivemos de elevar os juros”, explicou Rezende.

Segundo ele, há limite para o aumento de juros, uma vez que pode gerar uma seleção adversa. Entretanto, admitiu que essa foi a saída para o banco não comprometer sua margem, visto que o custo de captação aumentou em linha com a Selic.

“O crédito imobiliário só vai retomar quando os juros voltarem para um dígito. Ainda não comprometemos nossa margem, mas há um patamar para elevação de juros”, avaliou o diretor da Caixa.

Ele informou que a Caixa estuda a criação de um título, que pode ser uma letra de crédito imobiliária, indexada a um índice de preços, como, por exemplo, o IPCA, como um funding alternativo para os empréstimos do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), ou seja, imóveis acima de R$ 750 mil. “São estudos ainda. Com juros de dois dígitos, é difícil funding alternativo. Vamos testar o mercado para investidores institucionais”, disse ele.