A Polícia Federal concluiu mais um inquérito decorrente da operação Acrônimo, que tem como alvo principal o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Ele foi indiciado pelo uso de recursos de caixa 2 de sua campanha ao governo mineiro para construir e reformar uma franquia da rede de hamburguerias Madero em um shopping de Piracicaba (SP). A PF descobriu que o governador era sócio oculto do empreendimento. A reforma custou R$ 550 mil, pagos por meio da gráfica Nova América. Segundo as investigações, trata-se de uma empresa de fachada que emitia notas frias e foi usada apenas para arrecadar dinheiro de caixa 2 para a campanha de Pimentel em 2014. As informações foram reveladas pelo jornal O Globo e confirmadas por ISTOÉ.

Carlos Rhienck

Nas últimas semanas, os investigadores se aprofundaram na quebra do sigilo bancário da gráfica Nova América, o que revelou recebimentos de cerca de R$ 2 milhões de três empresas do setor de transportes entre setembro e outubro de 2014. Foi dessa transação que vieram os recursos empregados na reforma do restaurante de Piracicaba. Em depoimento à PF, o engenheiro responsável pela obra confirmou que recebeu os R$ 550 mil à vista diretamente da Nova América. A negociata foi organizada e intermediada, segundo a PF, por Benedito de Oliveira, o Bené, apontado como operador financeiro de Pimentel. Bené fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público em que confirmou que usava a gráfica Nova América apenas para movimentar valores ilícitos em nome de Pimentel. Ele também foi indiciado no esquema da reforma do restaurante e acusado pela PF por crimes de lavagem de dinheiro.

Propina de R$ 13,5 milhões

Uma das sócias do restaurante confirmou à PF que Pimentel tinha participação no empreendimento, especialmente por ter conseguido o dinheiro para reformar o espaço. O governador seria incluído no quadro de sócios do restaurante, inaugurado em abril de 2015, mas a deflagração da operação Acrônimo naquele mesmo ano levou à retirada do seu nome como sócio formal do negócio. O relatório da Polícia Federal foi enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), instância competente para julgar governadores. O caso está sob sigilo e também já está nas mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora precisa decidir se oferece ou não uma nova denúncia contra o petista. A defesa de Pimentel não se manifestou.

Operador do esquema, Benedito de Oliveira confirmou à PF que usava gráfica só para movimentar valores ilícitos arrecadados na campanha de 2014

Réu no STJ, o petista responde por corrupção passiva. De acordo com a PGR, Pimentel teria recebido pelo menos R$ 13,5 milhões em propina para beneficiar a Odebrecht enquanto foi Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014. Pimentel teria auxiliado a empreiteira na obtenção de seguros de crédito junto ao BNDES em valores de US$ 1,5 bilhão, para obras na Argentina, e de US$ 180 milhões, para investimentos em Moçambique. O governador nega as acusações. Além do processo em andamento no STJ, ele também é alvo de mais três denúncias que estão pendentes de análise. E ainda foi citado na Lava Jato. Delatores da Odebrecht revelaram repasses de R$ 8 milhões via caixa 2 para a campanha do petista ao governo de Minas em 2014. Além das pendências judiciais, Pimentel responde a um processo de impeachment na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e também tem problemas eleitorais. Ele buscará a reeleição em outubro, mas o cenário não é nada favorável. Em todas as pesquisas, o petista aparece atrás do senador Antônio Anastasia (PSDB), seu antecessor no comando de Minas Gerais.

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Investigação descarta envolvimento de montadora

Uma falsa delação feita à Polícia Federal levantou a suspeita de que o dinheiro usado na reforma do restaurante teria partido do Grupo CAOA, que possui revendas das marcas Ford, Subaru, Hyundai e Chery, além de fabricar no Brasil veículos das duas últimas. A quebra dos sigilos fiscal e bancário do grupo, contudo, não indicou nenhum pagamento à gráfica Nova América. Com isso, o envolvimento da CAOA no esquema foi completamente descartado pela PF na semana passada. “Foi uma declaração equivocada de um primeiro delator”, afirmou à ISTOÉ o advogado do grupo, Paulo Emílio Catta Preta, referindo-se a Benedito de Oliveira, o operador financeiro de Pimentel. Segundo o advogado, a acusação foi tão genérica que jamais apontou sequer qual empresa do grupo estaria envolvida. Muito menos houve indícios razoáveis de que alguém operaria internamente o esquema.

Colaborou André Vargas


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