Bolsonaro sempre foi um deputado medíocre, que vivia de rachadinhas no seu gabinete e de apresentação de notas fiscais discutíveis para cobrança de despesas com combustíveis para seus automóveis. Até que um dia, na esteira da corrupção do governo petista, ele enxergou uma oportunidade de lançar a candidatura a presidente, aproveitando um grande vácuo na política brasileira deixada pelo ostracismo do lulopetismo. Oportunista, percebeu que o discurso de combate à corrupção, latente por causa da Lava Jato, era um anseio nacional. E vestiu a máscara de paladino da moralidade, da ética, da família e de Deus acima de tudo. Mais tarde, veremos que foi tudo uma farsa e que a máscara iria cair. Na verdade, Bolsonaro nunca combateu a corrupção, sua família sempre se locupletou de pequenos e grandes trambiques, como o filho primogênito demonstrou, e apenas se valeu da Bíblia para engambelar os incautos evangélicos.

Mas, houve os que acreditaram que seu governo poderia ser redentor e muitos até o chamavam de “mito” por suas aparições nos aeroportos em grande estilo, sobretudo às vésperas da campanha eleitoral de 2018. Essa condição messiânica se agigantou quando ele, em Juiz de Fora (MG), levou uma facada e isso o transformou em semi-Deus para o gado bolsonarista. Venceu a eleição sem fazer campanha, sem participar de debates. Ganhou com um pé nas costas, como se diz, enfrentando o candidato petista que simbolizava a corrupção e as práticas não republicanas de governar. Prometia um governo austero e de combate aos malfeitos. A nomeação do ex-juiz Sergio Moro para o ministério ajudou a concretizar essa fantasia.

Não durou muito. Logo nos primeiros meses de governo surgiu o caso das rachadinhas do filho Flávio, dos negócios mal explicados, da compra de imóveis milionários, de enriquecimento ilícito, envolvendo não apenas o 01, mas também vários outros parentes e amigos do presidente, como foi o caso do PM Fabrício Queiroz, nitidamente ligado à milícia carioca e que até dinheiro na conta da primeira-dama depositou. A partir daí, o capitão despiu a capa de presidente íntegro e interviu na PF, no Coaf, na PGR, na Abin, demitiu ministros sérios como Bebianno, Santos Cruz, Moro, Mandetta e seu governo se transformou num escritório do Centrão, que loteou os cargos públicos, dominou a máquina e implantou um grande esquema de corrupção, como o que estamos vendo agora na compra das vacinas.

Está claro que o governo Bolsonaro não apenas deixou roubar, mas como também montou uma máquina para permitir o roubo. A máscara caiu e o roubo é livre no governo. E não se trata apenas dos desvios na compra superfaturada e escandalosa de imunizantes. O assalto aos cofres públicos está também no orçamento paralelo, que desviou quase R$ 30 bilhões em emendas para a compra de tratores e encher o bolso de parlamentares que apóiam um governo estruturado para limpar os cofres públicos. Portanto, o superimpeachment pedido nesta quarta-feira por partidos e políticos de todas as correntes é mais do que oportuno. É indispensável. O pedido deixa o presidente nu e desmascarado. Sua queda nas pesquisas mostra que ele enganou a muitos por muito tempo, mas não há mal que dure a vida toda. A máscara caiu e a casa ruiu.