Os comentaristas esportivos Caio Ribeiro, da Rede Globo, e Denilson, da Band, querem ensinar para crianças e jovens o que aprenderam ao longo de suas carreiras bem-sucedidas nos anos 1990 e 2000. A iniciativa, no entanto, vai além do modelo tradicional das escolinhas. Os dois pretendem colocar as aulas de futebol como atividade extracurricular nos colégios do Brasil a partir de 2021.

O programa pedagógico chamado “Evolution Soccer Program” foi criado a partir de uma metodologia desenvolvida pelos próprios ex-jogadores em parceria com professores de Educação Física e treinadores de futebol. Alinhado ao projeto pedagógico de cada escola e ao calendário letivo, o futebol pode ocupar um espaço na grade de atividades que promovem a formação integral do aluno além da sala de aula. Em alguns colégios, as aulas de inglês, música e natação, por exemplo, costumam ser oferecidas por outras instituições, com métodos próprios, como escolas dentro da escola. Esse é o formato que os ex-craques querem levar para o ensino do futebol.

Além do treinamento técnico e tático para meninos e meninas dos 5 aos 15 anos, o programa pretende oferecer orientações sobre cidadania, desenvolvimento emocional e socialização. “A intenção não é descobrir novos craques, mas despertar cidadãos que gostem de esporte. Se houver algum grande talento, a carreira vai se desenvolver naturalmente, mas esse não esse o objetivo central. Vamos reunir a evolução técnica com aspectos lúdicos, sempre transmitindo valores e apostando no esporte como educação”, diz o comentarista Caio Ribeiro, de 45 anos, ao Estadão.

Na prática, as aulas vão além do futebol, planeja o ex-atacante. “Em um esporte coletivo, eu dependo do meu companheiro para o time ter sucesso. Por isso, não pode haver bullying, por exemplo. É preciso combater o bullying no ambiente esportivo e promover a aceitação do outro”, exemplifica o comentarista.

Por conta da quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, o projeto vai começar, de fato, em 2021. Em São Paulo, ponto de partida do projeto, a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) vetou a reabertura de escolas das redes pública e privada para atividades de reforço em setembro. A retomada em outubro ainda é avaliada, e as escolas entraram na Justiça para tentar antecipar o processo. Caio e Denilson pretendem atingir inicialmente entre 10 e 15 colégios na cidade, com planos de expansão para o Brasil a partir de 2023.

ACAMPAMENTOS DE FUTEBOL – O projeto é um desdobramento do evento Caioba Soccer Camp, conjunto de atividades esportivas, de lazer e entretenimento oferecido para crianças e jovens geralmente em um final de semana em hotéis e resorts desde 2017. Criado pela agência Turn On The Light, comandada pelos empresários Tico Sahyoun, Antonio El Khouri e o próprio Caio Ribeiro, o acampamento já teve edições no Brasil e no exterior, com parcerias com Barcelona, Manchester City e Ajax.

Os encontros, que já contaram com a participação de mais de cinco mil crianças, costumam ser prestigiados por ex-jogadores, entre eles, Kaká, Elano, Cafu, Lugano, Dodô e Luizão. “Pais e crianças pediam um método especializado em futebol que fosse oferecido dentro dos colégios, ampliando o que era desenvolvido no final de semana”, explica Tico Sahyoun.

Denilson, que chegou a ser o jogador mais caro do mundo quando trocou o São Paulo pelo Bétis em 1997 por US$ 32 milhões, quando tinha apenas 19 anos, juntou-se ao grupo inicial de empresários para contribuir com a criação e desenvolvimento da metodologia. “O esporte é educação, disciplina e convivência em grupo. O coletivo vem primeiro e o individualismo aparece como consequência desse entrosamento. O esporte ensina isso para a vida”, diz o ex-jogador do São Paulo.

Outra inspiração para o projeto é a iniciativa do ex-nadador Gustavo Borges, ganhador da medalha de prata nos 100 metros livre na Olimpíada de Barcelona-1992 e nos 200 metros livre em Atlanta-1996. A partir da construção de uma academia de natação em Curitiba, o ex-nadador criou uma metodologia de ensino que vem sendo utilizada nos segmentos corporativo e educacional. Hoje, a academia Gustavo Borges está presente em vários colégios de São Paulo e do Paraná. Caio afirma que se sente confortável no papel de empreendedor. “Sempre gostei de me desenvolver e estou conseguindo unir duas paixões, o esporte e as crianças”, afirma.