Uma semana depois de ficar a cinco segundos do pódio na prova dos 20km da marcha atlética dos Jogos do Rio, o brasileiro Caio Bonfim voltou a ter um grande desempenho nesta sexta-feira, com o oitavo lugar nos 50 km, competição vencida pelo eslovaco Matej Toth.

Como já havia feito na distância mais curta, Caio, de 25 anos, quebrou o recorde nacional, tornando-se o primeiro brasileiro a completar a prova mais longa do atletismo em menos de quatro horas (3h47:02).

A marca, obtida depois de um esforço muito intenso, foi muito comemorada: Caio chegou gritando de alegria e se ajoelhou depois da linha de chegada, apontando para o céu.

“Quando sou último, também ajoelho. Só queria agradecer a Deus. Pensei muito no povo brasileiro hoje. Lembrei de todos os brasileiros que acordam de manhã e vencem seus 100 quilômetros diários. Eu só tinha esse de hoje. Muita gente queria ter saúde para poder caminhar por aí e não tem. Hoje pude representar essas pessoas”, afirmou o brasileiro, que, por estar entre os oito primeiros colocados, é considerado finalista da prova.

“A marcha de 50 km é uma prova de superação e acho que o povo brasileiro me empurrou muito. Tinha uma galera em cada pedaço me incentivando, estava até ficando fácil. Os últimos dez quilômetros foram os melhores”, vibrou.

Apesar de todo esse apoio, Caio também lembrou que é alvo de xingamentos a cada treino por causa da técnica da marcha atlética, que alguns chamam de “rebolado”. Mesmo assim vislumbra um grande futuro pela frente e espera obter o reconhecimento merecido.

“Será que o povo brasileiro vai achar o nono lugar um feito? (quando ele parou na zona mista para atender a imprensa, o japonês ainda não havia sido desclassificado)? Às vezes falam: ‘brasileiro é nono e ainda fica feliz’. Mas eu fui 14 minutos abaixo do meu recorde”, argumentou.

“É claro que eu queria medalha, fiquei cinco segundos atrás nos 20 km. Ser atleta olímpico é fantástico. Estou muito feliz com essa marca nos 50 km, tanto quando com o quarto lugar”, enfatizou.

O também brasileiro Jonathan Rickmann terminou em 28º, com tempo de 4h01:52, e Mário dos Santos não conseguiu completar a prova.

– Superação francesa –

A competição foi disputada sob sol escaldante no percurso da Praia do Pontal, um dos cartões postais do litoral carioca.

Atual campeão mundial da modalidade, Toth conquistou a primeira medalha olímpica da história do atletismo eslovaco em 3h40:58, 18 segundos à frente do australiano Jared Tallent, campeão olímpico em Londres-2012, que deixou para trás a dois quilômetros do fim.

O japonês Hirooki Harai (3h41:24) cruzou a linha de chegada em terceiro, mas acabou desclassificado uma hora depois do fim da prova, por causa de uma colisão na hora de ultrapassar o canadense Evan Dunfee (3h43:45), que acabou ficando com o bronze. Dunfee terminou tão exausto que desabou e precisou de atendimento médico.

Outro atleta que passou mal foi o francês Yohann Diniz, recordista mundial (3h32:33). De origem portuguesa, Diniz, que tem avô brasileiro, assumiu a liderança logo no segundo quilômetro e chegou a abrir boa vantagem sobre os rivais, mas foi derrubado por dores intestinais.

O sonho da medalha acabou no quilômetro 32, quando desabou no asfalto e perdeu a consciência por alguns segundos.

Mesmo sofrendo intensa dor, o francês levantou e resolveu completar a prova a qualquer custo, um ato de superação incrível reverenciado por Caio Bonfim, que chegou logo atrás dele.

“Quando ele parou, pensei: ‘muito bom, ganhei uma posição’. Mas eu não torço contra, estou muito feliz por ele. Estou feliz pelo que ele fez, com raça e dedicação. Quem é recordista do mundo, às vezes não está disposto a fazer um tempo ruim. Muitas vezes, nesse caso, preferem ir embora. Mas ele não. Ele deu o máximo dele, isso é espírito olímpico”, elogiou o brasileiro.

Depois da chegada, Diniz foi encaminhado à policlínica da Vila Olímpica porque ficou muito desidratado.

No total, apenas 48 dos 80 participantes completaram a prova, sendo que 19 abandonaram e 13 foram desclassificados.

lg