Em agosto de 1992, Fernando Collor de Mello, hoje amigo de fé, irmão camarada de Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, em meio ao crescente isolamento enfrentado após as denúncias de corrupção feitas pelo irmão Pedro, conclamou a população do País a sair às ruas, vestida de verde e amarelo, em defesa do Brasil, da família e dos valores morais, e contra a velha política, o sistema e os inimigos da Pátria.

Qualquer semelhança com o que assistimos hoje não é mera coincidência, mas pura repetição de comportamento de uma classe política imutável e da pior qualidade, em que nomes e partidos se alternam – quando se alternam!! -, mas as condutas, jamais. Triste a nação onde as décadas nada ensinam, onde nada se aprende e nada se esquece. O Brasil é uma espécie de ‘looping’ atemporal do atraso; só isso.

À época, Collor quebrou a cara. Milhões de pessoas – a maioria jovens estudantes – tomaram as ruas, não trajando verde e amarelo, mas preto. Com as caras pintadas, moços e moças acenderam a fogueira da democracia que queimou o ‘Bolsonaro da ocasião’. Em pouco tempo, o processo de impeachment que resultaria na cassação do mandato e perda de direitos políticos, fez Collor renunciar. Naquele tempo, ainda não existiam os Calheiros e Lewandowskis da vida, se é que me entendem.

2021

E não é que Jair ‘eu sou o centrão’ Bolsonaro resolveu resgatar o passado e tentou medir, em público, o tamanho do ‘bilau’ político? E não é que, como Fernando Collor, quebrou a cara? E não é que o tamaninho da coisa é ainda menor do que todos nós pensávamos? E não é que a montanha pariu um ratinho manso como o Topo Gigio?

O que se viu nesta terça-feira (10/8) em Brasília é o reflexo do que se tornou o Brasil. Um presidente (presidente?) fraco, incapaz e isolado; uma carroceata de meia dúzia de tanques, caindo aos pedaços, fazendo barulho e fumaça como Kombi ano 68; um grupo de 50 ou 60 palhaços, vestidos com a camisa da CBF, pedindo golpe militar.

Nenhum outro chefe de Poder nem outra autoridade compareceram ao piquenique do pai do senador das rachadinhas e da mansão de seis milhões de reais. Nem os próprios militares de renome e respeito, aliás. Bolsonaro ficou lá – cara de palerma! – olhando aquela presepada toda, ao lado de três milicos subalternos, pensando: que cagada (diferente daquela, da CPI).

VERGONHA

A vergonha a que se submeteu o devoto da cloroquina só não foi maior porque não a tem. E a vergonha a que ele submeteu as Forças Armadas entrará para a história como mais um triste capítulo na vida de militares golpistas – ainda existem – que não esquecem o passado. Que sirva de lição aos próprios idiotas e a todos os outros que vivem no século XXI, mas com a cabeça atolada no século XX, ou menos.

Em 1992, Collor pediu: ‘não me deixem só’. Deixaram. Ele caiu. Em 2021, o amigão do Queiroz quis brincar de Hitler e Mussolini, e se lascou. Vai cair? Não sei. Com o centrão no comando do Congresso e do governo, é difícil. Mas que a possibilidade de um novo mandato, seja pelas urnas ou pelo golpe de Estado, é cada vez menor, isso não resta a menor dúvida. Bolsonaro é um anão político; um nanico bobão.