Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – Áreas produtoras de café arábica da Alta Mogiana e sudoeste de Minas Gerais sofreram com geadas e baixas temperaturas na semana passada, disseram nesta segunda-feira representantes de produtores nessas regiões, citando que o fenômeno climático resultará em perdas para a safra do próximo ano.

Em Ibiraci (MG), município que respondeu por cerca de 1% da produção brasileira de café em 2020, a geada atingiu mais de 10% das lavouras, deixando-as com folhas “queimadas”.

“A lavoura ficou preta. Pegou entre 1.500 e 2.000 hectares no município de Ibiraci. Mas o impacto para a próxima safra vai ser maior do que isso, vai abortar muita gema floral”, disse o presidente do Sindicato Rural de Ibiraci, Anivair Teles Rodrigues, à Reuters, por telefone.

Ele explicou que, além daquelas lavouras queimadas pelas geadas, outras que foram afetadas apenas pelas temperaturas baixas produzirão menos em 2022, uma vez que as floradas para os frutos do ano que vem serão prejudicadas.

“Frio abaixo de 10 graus queima a gema floral, ainda não floriu, mas a gema floral já está formada”, comentou.

Segundo ele, as produtividades ficarão entre 20% a 25% menores em 2022 ante o potencial, somente em função das geadas e do frio intenso. As áreas já produziriam menos devido à prolongada seca.

O técnico agrícola da Emater Juliano Diogo Pereira, que percorreu cafezais da região nos últimos dias, disse que os municípios vizinhos de Ibiraci, como Cássia e Claraval, não foram tão afetados, mas também sofreram.

Em Ibiraci, ele estimou que as geadas afetaram mais de mil hectares.

“Tivemos um estrago grande, área bem considerável, teve dano sim”, afirmou Pereira. “Mais ou menos 10% da área de café de Ibiraci foi afetada, mesmo aquele café que não teve danos aparente está abortando folhas, certamente vai comprometer a florada que está por vir”, comentou.

Os cafezais do município paulista de Franca, próximo de Ibiraci, também sofreram com as geadas, disse à Reuters o presidente do Sindicato Rural da cidade, José Henrique Mendonça, citando ainda o impacto das geadas em outras áreas de Minas Gerais.

“O café reage muito mal a qualquer temperatura abaixo de 10 graus. Na maioria dos municípios as temperaturas foram de 3 a 7 graus. O que acontece, estamos saindo de uma seca violentíssima, já afetou a safra 21, agora vem esse frio, e vai afetar a safra 22”, declarou Mendonça, que atua também como gestor em agronegócio e presta consultorias.

Segundo ele, a região da Alta Mogiana já contava com uma safra 25% menor em 2022, devido à seca. “Agora devemos passar dos 35% (de perda)”, afirmou ele, referindo-se à Franca.

Ele comentou que, mesmo quem tem café ainda amadurecendo para a safra deste ano, deverá sentir os efeitos negativos das geadas.

Em relatório, o Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de café de Santos, citou em boletim semanal relatos “de um número não desprezível de cafezais atingidos” pelas geadas da semana passada em áreas produtoras do Brasil.

Segundo Carvalhaes, é preciso aguardar o levantamento dos agrônomos para que se saiba a extensão dos estragos nos cafezais pela massa de ar polar.

A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, com atuação nas regiões do Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo (no Estado de São Paulo), informou por meio de sua assessoria de imprensa que os técnicos ainda estão fazendo levantamento do impacto das geadas.

(Por Roberto Samora)

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