Entre um rebanho de ovelhas em um pasto na montanhosa região das Highlands (Terras Altas), na Escócia, Luigi e Peaches, dois cães de espessa pelagem branca, olham atentos para o céu.

Estes dois pastores maremanos, raça italiana classificada como guardiã de gado contra lobos, estão aprendendo a proteger os rebanhos das rabalvas, uma espécie de águia.

Jonny e Daisy Ames lançaram este programa de treinamento em Rothiemurchus, norte da Escócia, com a esperança de que seu projeto permita a coexistência entre aves e gado.

“A última coisa que queremos é que atirem nas águias”, explica Daisy Ames à AFP. “Temos que encontrar uma solução que convenha a ambas as partes”, defende.

– Caçados até a extinção –

As águias fizeram parte da paisagem escocesa até sua extinção no século XIX, devido à caça. A última delas foi abatida em 1918.

Em 1975, em um amplo programa de reintrodução da espécie, exemplares da Noruega se estabeleceram na ilha de Rùm, um dos lugares mais selvagens da Escócia. Depois, novas aves foram reintroduzidas em outras regiões nos anos 1990, 2007 e 2012.

Embora a iniciativa tenha sido um sucesso, desagradou criadores de gado, já que estas aves atacam seus animais para se alimentar.

Para resolver o problema, Jonny Ames se inspirou em sua experiência em um projeto de proteção de guepardos na Namíbia, onde os pastores maremanos foram empregados para manter os felinos longe do gado.

Para treinar os cachorros, Ames usa um drone sobrevoa os cães. “O drone é equipado com uma grande águia (falsa) presa à sua base, que ‘mergulha’ em direção aos cães”, explica à AFP.

Uma águia real da falcoaria de Jonny e Daisy se alimenta de uma ovelha para “mostrar aos cachorros que a ave é uma predadora e que, caso se aproxime das ovelha, eles devem assustá-la”.

Uma das vantagens destes cães é que são “completamente dóceis” com os humanos. “O pior que podem fazer é lamber”, brinca.

– “Não que sejam más” –

Jenny Love, criadora de ovelhas na costa oeste da Escócia, conta à AFP que as águias têm um efeito devastador na região.

“Não que sejam más”, mas “não há outro alimento para estas aves, então comem ovelhas, que são presas fáceis para elas”, explica.

“Isto tem um alto custo para os criadores, que veem seu sustento afetado”, disse Love, lamentando que “as pessoas têm a impressão de que os pecuaristas são os vilões”.

O programa prevê uma indenização aos pecuaristas de até 5.000 libras (6.300 dólares, ou 30.200 reais na cotação atual) por ano pelo gado perdido, devido às aves.

A solicitação de indenização é cara, complexa e insuficiente, porém, para compensar as perdas, observa Love.

Ela se mostra cética sobre a possibilidade de que apenas os cães vão resolver o problema. Seriam necessários milhares para cuidar de todas as ovelhas nas montanhas, adverte.

Uma solução mais adequada, segunda ela, seria uma indenização mais alta e mais fácil de se obter.

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