A demissão do diretor-geral da Policia Federal, Maurício Valeixo, e saída do governo do ministro da Justiça, Sérgio Moro, são mais dois lances macabros do jogo de xadrez com a morte que o presidente Jair Bolsonaro está impondo aos brasileiros. Todo dia, ele provoca um acontecimento para destinar alguns de nós, peões, ao sacrifício. Precisamos de ajuda do Estado para gerenciar uma crise sanitária e Bolsonaro lança a corda para a gente se enforcar, só para proteger seus filhos de qualquer ameaça e provar que a família prevalece sobre a República. Enquanto isso vemos os nossos parentes e amigos morrerem.

O ministro foi claro, Bolsonaro queria um acesso privilegiado às investigações policiais, alguém na direção-geral para fazer pedidos antirrepublicanos. “Bolsonaro quis acesso a dados da PF”, disse Moro. O intuito básico é proteger Flávio, Eduardo e Carlos, todos enrolados com laranjais e fake news e alvos de investigações e acusações criminais. Bolsonaro pretende salvá-los de um eventual situação de prisão e largar os brasileiros à sua própria sorte, em meio a uma pandemia mortífera. Pretende também se salvar, porque, afinal de contas, cadê o Queiroz? Cadê os treze celulares do miliciano morto na Bahia, Adriano da Nóbrega? Cadê o Adélio Bispo?

O Mensalão e o Petrolão são fichinhas perto desse desvio moral que se instalou no Estado brasileiro e que se escancara em um momento tão delicado. Proteger a si e a sua prole de uma situação absurdamente escandalosa é o único objetivo do presidente, que sofre de evidentes problemas de saúde, não governa mais (o comando operacional está com o general Walter Braga Netto) e mantém uma postura de ditador machão para uma base política esquisita e desumana que se desfaz a cada dia e a olhos vistos. Um dos lados mais perversos disso tudo é politizar, com intenções ditatoriais, uma crise sanitária. Se a sociedade, o Judiciário, o Legislativo e mesmo a maioria dos militares aceitarem isso é porque o autoritarismo já se impôs.