Fazer compras em sites estrangeiros costuma ser vantajoso do ponto de vista da economia: mesmo quando há incidência de impostos, os preços são mais baixos do que os praticados no Brasil. A vantagem financeira inicial, porém, pode se tornar prejuízo quando o item comprado fora do País esbarra na ineficácia logística de órgãos como a Receita Federal e os Correios. A arquiteta Doty Oliveira, de São Paulo, está entre os milhares de consumidores lesados por essa lentidão inexplicável. “Comprei com três meses de antecedência um vestido para a festa de um ano da minha filha. O aniversário já foi há três meses e o vestido ainda não chegou”, diz Doty, desapontada. Além da roupa, outros produtos que ela comprou no exterior pela internet também não chegaram. E a culpa não é do site: uma mochila também comprada por uma amiga de Doty que mora no Chile chegou em menos de um mês.

Ao rastrear o status da entrega no site dos Correios, a mensagem que Doty encontra é de que o objeto foi encaminhado do Centro Internacional em Curitiba para uma Unidade Operacional e liberado sem imposto. Previsão de entrega: 40 dias úteis. Ou seja, a etapa que deveria ser a mais demorada — o desembaraço pelo Recinto Alfandegado de Remessas Postais Internacionais de Curitiba, que recebe 300 mil mercadorias por dia — já foi concluída, e mesmo assim os Correios pedem um mês e meio para trazer a carga da capital paranaense até São Paulo. Mas nem o dilatadíssimo prazo informado foi cumprido. Consumidores chegam a reclamar de entregas que estão paradas desde agosto.

“O número de produtos vem crescendo a cada ano”, diz Cláudia Regina Thomaz, delegada da Alfândega da Receita Federal em Curitiba. “No final de 2011 eram 100 mil por mês. Agora estamos com uma média de 6 a 7 milhões”, diz ela. A Receita Federal garante que mesmo com essa explosão da demanda, sua parte é concluída em um período de dois a seis dias. E enquanto a quantidade de encomendas cresce, o mesmo não ocorre com o número de funcionários concursados dos Correios. Em crise e sofrendo as consequências de anos de má gestão durante os governos petistas de Lula e Dilma, a estatal vem acumulando prejuízos seguidos: desde 2015, os balanços divulgados pela empresa somam dívidas de R$ 5,5 bilhões. Ex-vice-presidente de finanças e controladoria da estatal, o executivo Carlos Fortner assumiu há menos de um mês a presidência dos Correios com a missão de solucionar um problema que não é só financeiro — é também de confiança, uma vez que a cada dia 140 mil reclamações são registradas por clientes insatisfeitos. Fortner diz que os atrasos começaram no ano passado: “Tivemos um pico de encomendas no Black Friday e no Natal, que se manteve até hoje”.

Recisão de contrato

É no mínimo curioso que, passado tanto tempo, as entregas não tenham sido normalizadas. Até porque o início do ano é historicamente o de menor movimento no comércio. Entre as explicações para o acúmulo de objetos não entregues está a recisão do contrato de uma transportadora terceirizada, que deixou de atender os Correios para ganhar o triplo prestando o mesmo serviço a uma empresa privada. “Temos restrições orçamentárias, mas tenho priorizado a operação”, diz Fortner, que afirma ter liberado R$ 14 milhões para despesas de mão de obra. O adicional orçamentário inclui pagar de horas extras, remanejar funcionários e contratar mais empresas terceirizadas. Outra dificuldade enfrentada pelos Correios é a concentração das encomendas no Recinto Alfandegado de Curitiba, que recebe 90% das remessas internacionais que chegam ao País na modalidade “petit paquet”, com peso de até 2 kg e baixo valor declarado.

A maioria dessas importações entra no País pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e de lá segue para o desembaraço em Curitiba (leia quadro em destaque). Depois disso, muitas retornam para São Paulo. Esse vai e vem custoso e ineficiente só deverá ser solucionado no ano que vem. “Estamos em negociação com um imóvel próximo ao aeroporto de Guarulhos. A ideia é criar um centro de tratamento e uma área de triagem ali”, diz Fortner. Mesmo sem poder contar com o futuro local de triagem, o presidente garante que novas remessas internacionais serão entregues dentro do prazo de 40 dias. Já as que estão atrasadas serão enviadas aos poucos até seus destinatários.

ACÚMULO Encomendas à espera de embarque: falta pessoal (Crédito:Divulgação)