‘Cadáver Perfumado’: em meio à COP30, peça faz sátira feroz ao greenwashing

Em cartaz no Teatro Ágora, a peça utiliza humor ácido e estética de vanguarda para denunciar o oportunismo empresarial diante do colapso ambiental e homenagear o legado de Zé Celso

Peça 'Cadáver Perfumado'
Foto: Divulgação

Na mesma semana da COP30 no Pará, a cena teatral de São Paulo recebe uma sátira incisiva sobre a crise climática. Em cartaz no Teatro Ágora, a peça Cadáver Perfumado, criada e encenada pelo Coletivo Tchunga, utiliza humor ácido e estética de vanguarda para denunciar como o marketing capitalista se apropria do colapso ambiental, o chamado greenwashing.

  • O espetáculo faz uma sátira feroz do “otimismo corporativo” diante do desastre ambiental.

  • A montagem homenageia a vanguarda paulistana, em especial José Celso Martinez Corrêa.

  • O texto é sagaz e faz releitura do nonsense político da década de 1980 para o século 21.

  • Um dos destaques é a cena de nudez que denuncia a mercantilização do meio ambiente.

  • Em cartaz no Teatro Ágora, quintas e sextas de novembro, às 20h.

A experiência do público começa antes mesmo do primeiro ato, com uma intervenção prévia que simula um funeral no jardim do Ágora. A narrativa central se constrói como uma parábola fantasiosa que mira o presente: um rei benevolente, um sol inclemente e uma equipe de publicitários empenhada em transformar o desastre em campanha de vendas.

O texto do Coletivo Tchunga é um dos destaques, lembrando a irreverência iconoclasta de grupos como o Ornitorrinco, de Cacá Rosset, mas com contornos mais distópicos e digitais.

A encenação, que combina humor escrachado com tiradas inteligentes, é marcada por momentos de alta voltagem estética. Na performance de Gabriel Frossard, do Teatro Oficina, uma cena de nudez se impõe para expor — literal e simbolicamente — o corpo masculino como objeto publicitário. A provocação serve para denunciar o cinismo do greenwashing, materializado na venda de um produto que promete “resolver” o aquecimento global.

“Tudo começa com uma ideia. Encenamos uma revolução fake. A lógica do capitalismo e da publicidade se apropria dessas lutas para enfraquecê-las. Isso é um ponto essencial da peça.”

Nicolau da Conceição, diretor.

Dirigida e produzida por Nicolau da Conceição, Pedro Libâneo e Noel Bielecki, a montagem do Coletivo Tchunga devolve ao público a sensação rara de que a arte pode, sim, incendiar debates e desmontar ilusões entre uma gargalhada e outra.

ℹ️ Serviço

Peça: Cadáver Perfumado

  • Local: Teatro Ágora (Rua Rui Barbosa, 664, Bixiga – SP)

  • Datas: 20, 21, 27 e 28 de novembro (quintas e sextas)

  • Horário: 20h

  • Ingressos: R$ 80 (inteira) | R$ 40 (meia)

  • Classificação: 16 anos

  • Capacidade: 50 lugares