IDADE DO BRONZE Fragmentos de machados datados de 1.300 a.C encontrados por adolescente britânica (Crédito:Divulgação)

Quem cresceu em meio às histórias de piratas que escondiam baús de ouro e joias e faziam um mapa com um “X” mostrando o local do tesouro sabe que a recompensa vale todo o esforço da procura. A saga “Indiana Jones” é prova disso: o tesouro só aparece ao final da história, a diversão está na caçada. Em 2021, um hobby que tem chamado a atenção é a busca por metais preciosos e relíquias antigas com detectores de metais. Na Inglaterra, uma garota de 13 anos achou um machado e outros utensílios de caça forjados em bronze durante um piquenique com o pai. Milly Hardwick, a estudante que só queria se divertir, acabou ganhando destaque nos principais jornais do mundo ao encontrar as peças datadas de mais de três mil anos. No Brasil é cada vez mais comum ver pessoas com detectores de metais, principalmente em praias, parques e na beira de estradas. Há quem encontre joias perdidas, como alianças e pulseiras, mas também pequenas pepitas de ouro e prata. O principal atrativo, porém, é a grande comunidade online onde os “detectoristas” brasileiros se reúnem para exibir seus ganhos.

Grupos fechados em redes sociais fazem sucesso ao unir os apaixonados pela caça ao tesouro. Há também grupos apenas para a venda e troca de detectores. Hoje, no mercado, existem diversos modelos, que vão de R$ 400 a R$ 4 mil. O que muda entre eles é a potência, a capacidade em diferenciar os metais e o funcionamento na água e em qual profundidade. “A ideia de adquirir um aparelho surgiu quando comecei a ver vídeos estrangeiros de detectorismo. Achei bacana e decidi comprar”, diz o empresário Rogério Antônio, de 35 anos, que adotou o hobby há quatro anos. Ele diz que busca as coisas por prazer, já que nunca se sabe o que será encontrado.

COLECIONADOR Rogério Antônio detecta metais em jardins e parques de São Paulo: ele não vende seus achados, são tesouros pessoais (Crédito:Marco Ankosqui)

“Todo detectorista quer achar um grande tesouro, mas o que importa mesmo é a história por trás dos objetos que encontramos”, explica. Antônio, que encontra muitas alianças de casamento e noivado, gosta de se perguntar: “Será que a pessoa perdeu ou atirou no mar após um término difícil?”. Como os anéis geralmente tem a inscrição da data da união ou o primeiro nome da pessoa, ele gosta de imaginar uma narrativa. De tão preciosos que são para si, não vende seus achados. “Já achei um crucifixo banhado a ouro”, diz como se tivesse encontrado um sinal de algo maior. A maioria dos achados brasileiros se resumem a moedas antigas, ferramentas de ferro, fios de cobre e, com sorte, pepitas de ouro e prata.

A prática do detectorismo no Brasil não é proibida, mas segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, ela não tem autorização para ser realizada em qualquer lugar. Sítios arqueológicos, que podem ser desde um cemitério, moradias tombadas ou até qualquer local do território nacional onde foi detectada ocupação humana de longa data, são proibidos aos amadores. As centenas de vídeos no YouTube que mostram como ser um detectorista, nem sempre observam as regras, mas no site do Iphan é possível tirar todas as dúvidas dos locais e sobre o que fazer caso alguém encontre algo que certamente deveria estar em um museu. “Há pouco reconhecimento no Brasil dos detectoristas. No exterior as pessoas são reconhecidas quando acham algo de grande valor”, diz Antônio. Na Grã-Bretanha, com um solo repleto de histórias e civilizações, os tesouros são pagos quando oferecidos a algum museu, algo que não é incentivado por aqui. Se a maioria dos detectoristas brasileiros não age de má fé, sempre há alguém para estragar a festa. Em 2019, a Polícia Federal deflagrou a operação “Detectoristas Detectados” em São Paulo, que apreendeu achados do sítio arqueológico de Lagoinha, em Ubatuba.

Marco Ankosqui

Já o supervisor de vendas Josiel dos Santos Tomaz possui uma propriedade na cidade paulista de Juquitiba, e comprou o aparelho há um ano tentando descobrir algo na sua fazenda. “O detector de metais também é uma forma de limpar a natureza, acho muita latinha de alumínio, que acabo até vendendo para a reciclagem”, conta Tomaz. Ele diz que o hobby tem ajudado até os seus filhos a saírem do celular. “Certa vez encontrei um cinzeiro que tinha certeza que era de ouro, pesando um quilo, até o ourives estava na dúvida. Fizemos os testes caseiros, mas quando veio o resultado final descobrimos que era de latão”. O fato de não ter encontrado ouro, não diminuiu a importância do achado, que ele mantém em casa por seu valor emocional. “A expectativa foi muito grande, agora adoro o cinzeiro, que vai ficar comigo”.