Equipados com questionários e testes de detecção, um enxame de profissionais com trajes de proteção azuis e máscaras cirúrgicas entra no coração dos subúrbios da África do Sul, ameaçados pela epidemia do novo coronavírus.

Esta manhã, um destes grupos circulava pelo bairro de Yeoville, muito perto do centro de Johannesburgo, tristemente conhecido por sua pobreza e pelo tráfico de drogas.

“Pedimos a um morador que dê volta ao bloco de casas para que todo mundo venha e, se possível, faça o teste”, explica a enfermeira Xola Dlomo.

Em pleno confinamento, várias pessoas vão ao local. “Estão aqui e estão dispostos a fazer um exame”, diz, satisfeita.

O presidente Cyril Ramaphosa impôs aos 57 milhões de sul-africanos um confinamento durante pelo menos três semanas, com o objetivo de frear o avanço da pandemia em seu território. Até o momento, a COVID-19 matou sete pessoas e contagiou 1.500 em todo o país, uma cifra muito reduzida em comparação com os milhares de mortos registrados em alguns países europeus.

Mas o vírus letal já irrompeu nos ‘townships’, comunidades altamente adensadas onde vive a população mais pobre do país, frequentemente carente de água corrente ou banheiros.

– “Saúde é prioridade” –

Para evitar a propagação da pandemia nestes locais insalubres, Ramaphosa lançou uma campanha de detecção, insólida na África, que mobilizou dez mil médicos, enfermeiras e voluntários. Sua missão? Ir em busca da infecção porta a porta entre os sul-africanos mais vulneráveis.

Em Yeoville, estes sentinelas, distribuídos em oito pequenos grupos, esquadrinham um quilômetro quadrado.

“Nosso objetivo é informar as pessoas. Algumas não entendem a quarentena”, explica seu encarregado, Kegorapetse Ndingandinga. “Sua saúde é nossa prioridade absoluta”.

Com a cabeça para trás, Michael Moshane, de 58 anos, faz a coleta de amostra nasal. “É um pouco desagradável, mas é preciso fazer um esforço”, diz. “É imprescindível para saber nosso estado de saúde”.

Até agora, foram realizados pouco mais de 47.500 testes na África, sobretudo em laboratórios privados, segundo contagem das autoridades sanitárias.

Uma cifra totalmente insuficiente, avalia o ministro sul-africano da Saúde, Zweli Mkhize, convencido de que estes dados só mostram a ponta do iceberg desta pandemia no continente.

“As transmissões locais aumentam em silêncio”, advertiu esta semana. “Nos bairros pores, as pessoas que apresentam sintomas leves não vão ao hospital. Não conhecemos a realidade do problema”.

Sua estratégia é multiplicar a detecção da doença, como fez, por exemplo, a Coreia do Sul.

Por isso, reforçou a capacidade de dez laboratórios públicos e, sobretudo, mobilizou uma frota de 67 laboratórios móveis. Espera, assim, passar a semana que vem de 5.000 a 30.000 testes por dia no país.

– “Calmaria antes da tempestade” –

É um objetivo muito ambicioso, levando-se em conta que nestes primeiros dias de campanha, a afluência dos moradores é limitada.

Moshone, que mora em Yeoville há mais de 25 anos, não se surpreende.

O medo de seus vizinhos o faz lembrar dos anos 1990, quando o HIV, vírus causador da aids, fez estragos no país. “Até que a aids tivesse provocado seus primeiros mortos, ninguém aqui levou a sério a ameaça”, explica.

A enfermeira Dlomo é mais otimista. “Talvez se nos virem aqui no bairro, as pessoas se darão conta de que o perigo existe e têm que tomar precauções”.

Mas não é certo, vendo como a população destes subúrbios desrespeita as determinações de confinamento e distanciamento social. Há uma semana, longas filas nos supermercados são a regra, apesar da mobilização da polícia e do Exército.

“Minha família e eu ficamos em casa, mas quando vejo outras pessoas que continuam saindo, fico indignada”, critica Zandile Siwela.

“Não querem se isolar em casa. Saem com seus filhos, tanto faz para elas”, diz outra mulher, Masechaba Motaung, visivelmente irritada. “Os africanos sempre levam as coisas com muita leveza”.

O ministro Zweli Mkhize, ao contrário, teme o pior. O lento avanço da doença é, talvez, “a calmaria antes da tempestade destruidora”.