Cacá Ottoni celebra sucesso de Marieta em ‘Vale Tudo’: ‘Quem sabe vai matar Odete?’

Em bate-papo com IstoÉ Gente, atriz fala sobre personagem assexual, parceria com Matheus Nachtergaele e surpresas do remake

Divulgação/Sergio Baia.
Cacá Ottoni vive Marieta, em 'Vale Tudo'. Foto: Divulgação/Sergio Baia.

Quem estava com saudade de ver Cacá Ottoni, 34 anos, na telinha não perdeu por esperar. A atriz voltou às novelas em grande estilo com uma personagem que está dando o que falar em “Vale Tudo”, remake de Manuela Dias exibido em horário nobre da Globo. Mostrando que de pequena não tem nada, Marieta cresceu na trama ao dar um “chega pra lá” no etarismo e proporcionar ao público informação sobre assexualidade.

O último trabalho da atriz em folhetins havia sido em “Amor de Mãe”, da mesma autora, em 2020. Agora, ela se divide entre as gravações da novela e apresentações no teatro. Em bate-papo com IstoÉ Gente, Cacá relembrou sua trajetória na carreira, falou sobre a repercussão da personagem, a parceria com Matheus Nachtergaele, 57, e surpresas do remake que não faziam parte da versão original, de Gilberto Braga, exibida em 1998.

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“Estou feliz com o retorno, feliz com esse espaço maior. Muitas pessoas me perguntam nas redes sociais, e até na rua, ‘como assim, casal assexual?’. E a novela vai mostrando que a parceria é algo muito maior do que só um encontro sexual”, diz a atriz, feliz com a possibilidade de abordar um tema novo proposto no remake que não exista na primeira versão.

“O casamento, eu acho que a gente superestima muito esse lugar sexual, a gente coloca muito foco nessa psicologia construída em cima dessa questão sexual. A parceria vai muito além disso. Então, tem toda uma relação de cumplicidade dos dois. Algo que a Marieta nota no Poliana, o quanto ela dá força, e potencializa ele, o quanto ele potencializa ela. Amor é isso, amor é ação e é potencializar o outro”, analisa ela, provando que um tema aparentemente complicado pode ser tratado com leveza e de forma esclarecedora para o público.

Se para a atriz, a abordagem não causou espanto, descobrir que iria contracenar com Nachtergaele provocou nervosismo, já que estava ali a fã diante do ídolo.

“Nossa, eu sou obviamente fã dele. Fiquei muito nervosa quando soube por ele. Acompanho o Matheus desde a minha infância, assisti na televisão, no cinema, no teatro, e dá sempre um nervoso a mais trabalhar com ídolo”, confessa a artista, que é só elogios ao parceiro de cena.

“Ele é uma pessoa muito generosa, muito doce, muito sensível, com muita escuta, que adora passar a cena antes. Ele faz isso [dramaturgia] há anos e tá lá com toda generosidade do mundo passando a cena comigo. Ele tem sempre algo enriquecedor para trazer. Está sendo uma troca muito feliz”, comemora, destacando, também, a parceria com Belize Pombal, 39, intérprete de Consuelo: “São presentes”.

Não só pela orientação sexual, a personagem de Cacá repercute com o público pelo etarismo, que também foi discutido na novela original, quando o termo sequer existia ainda, mas somente com o casal formado por Aldeíde e André, vivido antes por Lilia Cabral e Marcello Novaes, e agora por Karine Teles e Breno Ferreira.

Em meio a críticas pela diferença de idade dos casais em “Vale Tudo”, a atriz defende sua personagem e acredita que a novela tem se tornado uma oportunidade de mostrar que os encontros de geração podem ser enriquecedores para ambas as partes.

“Eu vejo pelas críticas nas redes sociais. O Matheus nem acompanha, mas eu fico ali ‘espionado’, e tem muitas críticas, tanto ao casal Poliana e Marieta, quanto a Aldeide e André. E é muito etarista essa visão de que pessoas de gerações diferentes… a gente está falando de uma mulher maior de idade. O que é legal desse encontro de gerações é perceber que o aprendizado não é de mão única. Não é a pessoa mais velha, por ter mais experiência, que ensina para a pessoa mais nova. As experiências são diversas, não podem ser julgadas de uma maneira exclusivamente cronológica”, pontua.

“Tanto que em relação à assexualidade, a Marieta tem muito mais repertório. Ela já teve outras relações, teve outros namorados. É tudo muito novo para ele, que é mais velho, e é tudo muito estabelecido para ela, que é mais nova. Então, tem essa contradição na relação intergeracional que eu acho muito legal”, defende.

Em meio a algumas surpresa preparadas por Manuela Dias para o remake em relação à trama original, Cacá brinca sobre o desfecho da temida Odete Roitman, icônica vilã que no final dos anos de 1980 gerou especulações sobre quem teria cometido o seu assassinato.

“Quem sabe a Marieta mata a Odete Roitman?”, brinca a atriz ao ser questionada sobre uma possível reviravolta da secretária da CTA diante dos temidos patrões e do ambiente hostil da empresa aérea.

“Existe essa possibilidade, ninguém sabe nada ainda sobre isso. Quem sabe essa reviravolta não é minha e eu faço meu nome na televisão brasileira?”, continua ela, aos risos. “Marieta mata sem querer. Melhor nem dar ideia, porque vai que era essa a ideia e aí eu perco o meu grand finale”, completa a atriz, após relembrar que foi em um trabalho de escola sobre a década de 80 que conheceu “Vale Tudo” e a pergunta “Quem matou Odete Roitman?”, que intrigou o Brasil naquela época.

Entre a TV e o teatro

Mãe de uma garotinha de oito anos, Cacá Ottoni encontra energia para o trabalho além da novela e se desdobra entre as gravações e uma peça no teatro. Atualmente, ela está em temporada com a montagem “Antena”, no Teatro Municipal Ziembinski, na zona norte do Rio de Janeiro.

Ao lado da sua irmã, a também atriz Elisa Ottoni, que também é sua irmã na peça, ela leva para o palco a discussão sobre a precarização das condições e relações de trabalho, tema fundamental nos dias de hoje.

“A peça fala sobre precarização do trabalho, sobre a crescente valorização do dinheiro, em contraponto à desvalorização do serviço do trabalhador. Um tema super importante de falar hoje, e que a Marieta até de alguma maneira esbarrou nesse assunto. Pelas demissões, por ter procurado emprego no bar do Vasco [Thiago Martins], e levantar essa reflexão ‘nossa, mas ela trabalhava na maior agência de publicidade da América Latina e agora está procurando emprego no Bar do Vasco. Eu acho super conivente com a realidade num mundo em que todo mundo virou PJ”, analisa Cacá.

E como dar conta de novela e do teatro ao mesmo tempo, só mesmo com muito amor à arte. A artista se divide entre o estúdio e os ensaios da montagem, que tem cinco atores em cena.

“Esse modo féria não chegou para mim ainda”, observa ela.

A peça segue em temporada até o final de setembro, às terças e quartas-feiras, sempre às 20h.

Carreira

Com 34 anos, a atriz estreou profissionalmente aos 17 com a peça “Improzap”, mas foi aos 21 que ganhou projeção nacional ao dar vida a Morgana em “Malhação”, em 2012. 

“Eu fiz a Morgana de ‘Malhação’, uma personagem que até hoje sou lembrada muito por ela, tenho carinho especial, foi minha primeira personagem, que até hoje o público relembra. Alice Wegmann fazia comigo, ela foi protagonista da minha temporada”, relembrou ela, citando a intérprete de Solange Duprat, quem contracenou no início de “Vale Tudo”, quando era secretária da agência de conteúdo Tomorrow Lab.

Seu último trabalho em uma novela foi como Joana, uma jovem que dividia seu tempo entre os estudos numa escola pública e o trabalho no bar do pai, em “Amor de mãe” (2020), obra da mesma autora de “Vale tudo”. Ela ainda é orientadora em um programa formativo no Firjan e está roteirizando uma série em fase de produção. 

“Eu comecei a fazer teatro muito cedo, com oito anos de idade. Eu era muito tímida e descobri no teatro uma maneira de me libertar dessa prisão que a timidez proporciona, impõe. No palco, eu tinha coragem de fazer o que eu não tinha coragem de fazer fora do teatro. Essa experiência foi a minha primeira escolha pelo teatro”, diz ela.

Carioca, Cacá Ottoni ganhou o prêmio de Melhor Atriz do Festival Cine-Maracanaú por seu trabalho no filme “Caubóis do Apocalipse”. Já o longa “Canastra suja” lhe rendeu indicação a Melhor Atriz do Festival de Los Angeles- LABRFF.

Formada em artes cênicas pela Unirio, a atriz participou de vários espetáculos como “Há vagas para moças de fino trato”, “Cavalos e Baias”, “O leitor de aluguel” e trabalhou nos musicais infantis “A Árvore que fugiu do quintal” e a adaptação de Aderbal Freire Filho do texto “Flicts”, de Ziraldo. Com o espetáculo “Ana Fumaça Maria Memória”, foi indicada como melhor atriz a dois importantes prêmios: O CBTIJ e o Botequim Cultural.

Em seu currículo também constam as séries: “Vizinhos”, “Sob Pressão”, “Histórias quase verdadeiras” e “Santo Forte”, no GloboPlay. Na Record, atuou em “Lia” e “Jesus”. Trabalhou também durante seis anos como palhaça de Hospital pelo programa Enfermaria do Riso.