O ex-governador Sergio Cabral (PMDB) pediu desculpas à população nesta quinta-feira, 14, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, por ter feito uso pessoal de dinheiro de caixa dois de campanhas eleitorais. Ele voltou a negar cobrança e recebimento de propina de empreiteiras e também disse desconhecer a prática da “taxa de oxigênio”, que seria 1% do valor dos contratos públicos. Cabral alegou ainda que todos que o delatam ganham benefícios da Justiça.

“Foi caixa dois o tempo inteiro. Dessa expressão ‘taxa de oxigênio’ nunca tive conhecimento, é até sugestiva. Eu não acho a menor graça”, afirmou. “O que me motiva é a realização. Tenho orgulho de dizer que em oito anos de governo fiz mais metrô que os oito governadores anteriores a mim juntos, em 32 anos. Se pegar Faria Lima, Chagas Freitas, Brizola, Moreira Franco, Marcello Alencar, Garotinho e Rosinha, eles fizeram menos. Isso é o que me importa.”

Ele aproveitou a audiência para se dirigir ao povo fluminense. “Peço desculpas à população por ter feito uso de caixa dois, que era uma prática. Agora, propina, não. Eu não pedi. Não sentei com Ricardo Pernambuco (sócio da empreiteira Carioca Engenharia) e disse: ‘vamos fazer uma negociata’. Eu chamei e falei: ‘vamos fazer o metrô'”.

Cabral desqualificou as afirmações, feitas em delação premiada, de seu ex-colaborador Carlos Miranda, apontado como o “homem da mala de dinheiro” do esquema atribuído a ele. “Agora surge um novo delator, Carlos Miranda, condenado a 47 anos de prisão, preso há 13 meses. É um delator, traidor, mentiroso, que nunca participou de nenhuma reunião com qualquer empreiteiro e comigo. Qual é a prova? Todo mundo que fala do Cabral se dá bem, todos que apontam para mim têm benefícios. É muito triste isso. O que me impressiona é que é tudo sem prova”, afirmou, citando os doleiros Marcelo e Renato e Chebar, executivos da joalheria H. Stern e outros envolvidos no processo.

Sem afirmar qual o montante que usou supostamente da caixa dois, ele disse que o fez para ter “uma vida incompatível, muito além dos meus dinheiros lícitos. Eu errei”. “É um processo tão kafkiano, porque eu estou dizendo que é mentira. Ele (Miranda) se posiciona como gerente financeiro de uma organização criminosa. Mas ele era um amarra-cachorro, um mero funcionário meu, que fazia serviços para mim. Basta ele apontar o dedo para mim e dizer que foi propina que ganha o prêmio de delação”, continuou Cabral.

Ele pôs em xeque as alegações de Luiz Carlos Bezerra, outro antigo colaborador – disse que as planilhas apresentadas por ele eram “de bêbado”, afirmando que ele “bebia muito”.

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Cabral está preso há um ano pela Lava Jato, acusado de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O esquema de corrupção que teria sido tocado por ele se estenderia a áreas como obras, transportes e saúde e teria movimentado R$ 1 bilhão entre os anos de 2007 e 2016. Ele já foi condenado a 72 anos de prisão no Rio e em Curitiba e ainda responde a mais 12 processos. Suas sentenças podem chegar a 300 anos de cadeia.


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