O presidente afastado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, representa um tipo de homem que já deveria estar extinto há muito tempo, mas ainda se multiplica nos círculos de poder. É o sujeito que assedia as mulheres alegremente, com um sorriso abobado no rosto, fora do tempo e do espaço. Faz piadas obscenas com subordinadas, manda mensagens sacanas, impõe um tom sexista na relação de poder. Caboclo, entre outras coisas, fez vários comentários maliciosos e perguntou a uma integrante do cerimonial da entidade se ela se masturbava e a tratou como “cadela” em uma reunião. Um chefe que fala isso para uma funcionária só pode ser perturbado. Ele foi afastado por 30 dias do cargo pela Comissão de Ética da CBF para que a situação seja investigada, mas as denúncias, devidamente atestadas por gravações, postagens e testemunhas, vão derrubar-lhe de vez. A CBF não vai querer ser cúmplice desse tipo de crime. Ou vai?

Outro problema de Caboclo é a bebida. Segundo a vítima, o presidente afastado fazia consumo regular de álcool durante o expediente em frequentes idas ao banheiro do gabinete e ela era requisitada para esconder as garrafas cheias e recolher as vazias. Em viagens, ela também assumia o consumo de álcool do superior na conta de seu quarto no hotel. Num desses excessos etílicos, em março deste ano, Caboclo passou a imitar cachorro, ofereceu-lhe biscoitos caninos e a chamou de “cadelinha” diante de várias testemunhas. Em outro dia, antes do jogo contra o Equador, aparentemente embriagado, foi ao vestiário da seleção brasileira fazer discurso.

Caboclo tem 46 anos e é filho de um ex-dirigente do São Paulo Futebol Clube, onde também começou sua carreira de cartola, que começou a deslanchar na Federação Paulista de Futebol (FPF), sob a proteção de Marco Polo Del Nero, que o levou a ser diretor-executivo da CBF. Tornou-se presidente da entidade em 2018, sucedendo Del Nero. Vê-se envolvido agora num pacto sinistro com Jair Bolsonaro para realizar a Copa América no Brasil e voltar aos tempos da ditadura, quando o futebol era instrumentalizado pelos governantes. Isso agora se soma à denúncia consistente de que o presidente da CBF é um assediador sexual e moral. Usa o poder para constranger as pessoas e não está focado no que realmente importa: melhorar a organização do futebol no País de maneira limpa e justa e bloquear ingerências política. Quem trata uma pessoa dessa maneira como Caboclo tratou sua funcionária não está preparado atualmente nem para gerenciar um botequim.