Deus é uma mulher negra no filme A Cabana, que estreia no dia 6 de abril no Brasil. Ele é interpretado por Octavia Spencer, ganhadora do Oscar de melhor coadjuvante em 2012, por Histórias Cruzadas, e novamente indicada, este ano, por Estrelas Além do Tempo.

A atriz divide o protagonismo da trama com Sam Worthington (Mack), no papel do pai revoltado contra o mundo e, claro, o seu Criador, após perder a filha caçula de forma violenta. Octavia esteve no Rio de Janeiro para lançamento do filme, na segunda-feira 27, e ficou mais dois dias passeando pela cidade. Visitou pontos turísticos, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, e ignorou as denúncias da Operação Carne Fraca ao optar por comer uma picanha no restaurante Giuseppe Grill, no Leblon,
na zona sul. Por fim, disse que o Rio é “maravilhoso”.

Em entrevistas, a atriz reverberou a mensagem religiosa da obra que, em síntese, é: só o amor, a fé e o perdão são capazes de redimir os males humanos. “Este papel me ofereceu uma chance de esperança e cura para o mundo”, disse ela. Com essa mensagem, o livro homônimo de William P. Young já vendeu mais de 22 milhões de exemplares.

Em resumo, a cabana é a metáfora do que o escritor considera “a devastação interna, onde escondemos todos os nossos segredos e nunca queremos deixar alguém entrar”. Porém, não há saída para a dor que não passe justamente pela volta a estes lugares sombrios para o espírito. A convite de Deus, que também é chamado de Papai, Mack retorna ao lugar onde sua filha foi morta para tentar vencer uma grave depressão. “Há uma cena que me tocou profundamente: Mack pergunta a Deus por que o trouxe de volta a um lugar onde ele sofre tanto. Digo que é porque é onde ele ficou encalhado”, diz Octavia. O drama também tem momentos de humor, como a cena em que Deus está com um fone ouvindo Neil Young, a quem chama de “um grande cara”. Ou quando exclama, após uma conversa com Mack: “Homens!”.

Lágrimas

Se, de modo geral, o longa é convite às lágrimas. Uma criança inteligente, linda e amorosa é apresentada ao espectador para, a seguir, ser arrancada de sua família feliz de forma trágica. Existiria dor maior do que essa? Provavelmente, não. Por isso, Octavia considerou o trabalho “maravilhoso e doloroso”.

A visão cristã do que seja a morada de Deus coincide com a imagem popular do paraíso: um recanto mágico, solar, florido e pacífico. Entretanto, os outros companheiros do Todo-Poderoso escapam ao estereótipo em evidente preocupação inclusiva.
Uma latina, a brasileira Alice Braga (Sabedoria) , um judeu Aviv Alush (Jesus) e uma asiática, a japonesa, Sumire (Espírito Santo), compõem a Santíssima Trindade, além da afro-americana Octavia.

Na única cena em que Deus assume forma masculina, é interpretado por Graham Greene, um índio americano.

Entrevista

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Octavia Spencer“O filme impactou a minha vida”

Como é sua relação com Deus?
Eu converso com Ele todo dia, especialmente, de manhã. É uma espécie de meditação. Me considero uma serva, uma filha de Deus e sinto que estava a serviço Dele no papel.

Como foi interpretá-lo, principalmente sendo uma mulher?
Não existe uma forma específica para interpretar o Todo-Poderoso. Escolhi a perspectiva de mãe/pai que teria traído, abandonado o filho. Tive ajuda de um pastor, que é meu amigo, para conhecer mais da doutrina do cristianismo e recebi muitos livros do diretor (Stuart Hazeldine). Tudo isso ficou em meu coração.

Algo mudou em você depois dessa experiência?
Gostaria de pensar que sempre fui a mesma pessoa. Sigo uma ‘regra de ouro’, que é tratar os outros da maneira como eu gostaria de ser tratada. Mas o filme impactou, sim, a minha vida. Mudei, não a ponto de deixar de ser quem eu era, mas na percepção espiritual. Percebi que me apegava a muita coisa e nem percebia.