O presidente do Instituto Butantan, órgão responsável no Brasil pela única vacina contra o novo coronavírus usado até agora no país, pediu nesta terça-feira (19) ao presidente Jair Bolsonaro que “tenha a dignidade” de ajudar a agilizar o envio de insumos do imunizante da China.

Bolsonaro criticou em várias ocasiões a vacina promovida pelo governador de São Paulo, João Doria (um de seus principais adversários políticos), e fabricada na China, um país do qual o presidente alinhado com o americano Donald Trump buscou tomar distância.

Apesar disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou no domingo o uso emergencial da CoronaVac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em colaboração com o Butantan, subordinado ao estado de São Paulo, assim como do imunizante britânico da AstraZenevca/Universidade de Oxford, elaborado em cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao ministério da Saúde, que ainda não chegou ao Brasil.

A imunização começou com a distribuição de seis milhões de doses da CoronaVac e o Butantan solicitou a autorização para outras 4,8 milhões de doses, reservadas a grupos de risco, como idosos, profissionais de saúde e comunidades indígenas.

E há incertezas agora sobre o que vai acontecer quando as doses acabarem no país de 211,8 milhões de habitantes e que soma mais de 211 mil mortos pela pandemia.

Tentando recuperar terreno diante de Doria, Bolsonaro proclamou na segunda-feira que “a vacina é do Brasil, não de nenhum governador”.

O presidente do Butantan, Dimas Covas, interpretou a declaração ao pé da letra.

“Se a vacina agora é do Brasil, o nosso presidente tenha a dignidade de defendê-la e de solicitar, inclusive, apoio, pro seu Ministério de Relações Exteriores na conversa com o governo da China”, disse Covas em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

O Instituto Butantan tem um acordo com o laboratório Sinovac para receber uma quantidade suficiente do principal insumo da vacina, chamado IFA, para fabricar 40 milhões de doses da CoronaVac, informou o Instituto à AFP.

Esse envio só aguarda a autorização do governo chinês, acrescentou.

O Brasil aguarda, também, a chegada de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford da Índia, onde é fabricada. O governo brasileiro havia anunciado que a carga chegaria na semana passada, mas o país asiático não autorizou o envio e por enquanto não há data para o transporte.

Após a importação destas doses, a Fiocruz tem previsto começar a fabricar esta vacina no Brasil, mas os insumos, que também são importados da China, enfrentam o mesmo atraso para chegar ao país e isto poderia afetar o cronograma, informou a instituição nesta terça.