Depois de 13 anos de espera, Bulgária e Romênia ingressaram parcialmente ao espaço europeu Schengen de livre circulação europeia no domingo (noite de sábado, 30, no Brasil). Com a medida, serão suspensos os controles nas fronteiras aéreas e marítimas dos dois países, embora ainda sejam mantidos nas terrestres.

Por ora, seguirão vigentes os controles por terra devido ao veto interposto pela Áustria, o único membro da União Europeia (UE) reticente a que estes dois países se juntem ao Schengen, por temor à chegada de solicitantes de asilo.

E, embora seja uma adesão parcial, ao estar limitada a aeroportos e portos marítimos, trata-se de um passo com alto peso simbólico.

Pelo espaço Schengen, criado em 1985, podem transitar livremente, sem controles nas fronteiras interiores, mais de 400 milhões de pessoas.

“É um momento histórico para o espaço Schengen, o maior espaço de livre circulação do mundo. Juntos, construímos uma Europa mais forte e unida para todos os nossos cidadãos”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado.

É uma “questão de dignidade”, afirmou, por sua vez, Stefan Popescu, especialista em relações internacionais radicado em Bucareste. “Qualquer romeno, ao ter que fazer uma fila diferente do resto dos cidadãos europeus, sentia que estavam lhe dando um tratamento diferente”, disse à AFP.

“Isto vai favorecer nossa integração na UE”, comentou o analista, fazendo alusão a um “marco importante”, apesar de ter demorado a chegar.

O búlgaro Ivan Petrov, encarregado de marketing de 35 anos, residente na França, também se referiu a um “grande passo adiante”, que significará “um ganho de tempo” e viagens “menos estressantes”.

– Vinte e nove países no Schengen –

No aeroporto de Bucareste, a capital da Romênia, onde a maioria dos voos têm como destino países do espaço Schengen, os funcionários trabalharam durante toda a semana para preparar a mudança.

O governo prometeu um reforço nos efetivos para realizar controles aleatórios, sobretudo com foco em menores de idade, “para evitar que sejam presa de redes de tráfico de seres humanos”.

Os agentes também vão se encarregar de “dar indicações aos passageiros e identificar aqueles que pretendem se aproveitar da medida para deixar a Romênia ilegalmente”.

Um conjunto de medidas que também são destinadas a convencer Viena a deixar de lado suas reticências para que possam se tornar 100% membros do espaço Schengen.

A Croácia, que entrou na UE depois de Romênia e Bulgária – membros do bloco desde 2007 -, faz parte do espaço Schengen desde janeiro de 2023.

Com a adesão de Romênia, país de 19 milhões de habitantes, e da Bulgária, de 6,5 milhões, o Schengen passará a ter 29 membros: 25 dos 27 Estados da UE, além de Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.

– “Processo irreversível” –

Contudo, pelas fronteiras terrestres, as coisas vão continuar como estão.

Segundo um dos principais sindicatos romenos do setor de transporte rodoviário, os caminhoneiros têm que esperar de 18 a 16 horas na fronteira com a Hungria, e “de 20 a 30 horas” para entrar na Bulgária, embora às vezes ocorram “picos de até três dias” em ambos os pontos de passagem.

“Estamos esperando há 13 anos, estamos no limite”, reagiu o secretário-geral do sindicato, Radu Dinescu, lamentando “prejuízos financeiros” colossais para o setor.

Entre os sindicatos búlgaros, as denúncias são similares.

“Apenas 3% das mercadorias búlgaras são distribuídas por ar e mar, os 97% restantes circulam por via terrestre”, afirma Vassil Velev, presidente da organização BICA (Bulgarian Industrial Capital Association), entrevistado pela AFP.

Em qualquer caso, tanto a Bulgária quanto a Romênia advertiram: não há volta atrás.

“Está claro que este processo é irreversível”, destacou, em março, o ministro do Interior da Romênia, Catalin Predoiu, pedindo que a incorporação ao espaço Schengen seja total até o fim deste ano.

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