O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, registrou à meia-noite de quinta-feira (26) sua candidatura à reeleição para as eleições de 4 de fevereiro, em um momento de esmagadora popularidade por sua ofensiva contra as gangues, mas questionado por sua concentração de poder e pela legalidade de sua postulação.

Sob um forte esquema de segurança, Bukele e seu companheiro de chapa, o vice-presidente Félix Ulloa, foram ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), no oeste de San Salvador, onde dezenas de apoiadores gritavam “Nayib!” e “Reeleição!”, observaram jornalistas da AFP.

“Estamos mudando a imagem de El Salvador e deixamos de ser o país mais inseguro do mundo para ser o país mais seguro do continente”, disse Bukele, com um megafone.

Ele reconheceu que no país “falta melhorar a saúde ainda mais, a educação ainda mais, mais empregos precisam de ser gerados, mais infraestruturas precisam de ser construídas, e vamos fazer tudo isso nos próximos cinco anos”.

“Millennial” de 42 anos, Bukele, hábil com redes sociais, é o presidente mais popular da América Latina, com o apoio de 90% dos salvadorenhos, segundo pesquisa publicada em julho pela ONG Latinobarómetro 2023.

Este apoio esmagador reside em seu plano de segurança que apaziguou comunidades aterrorizadas por gangues, mas à custa, segundo grupos humanitários, de direitos limitados pelo regime de exceção que vigora no país desde março de 2022.

Sua popularidade sugere, por enquanto, que não terá rival.

Segundo pesquisa da Universidade Francisco Gavidia, Bukele tinha 68,4% das intenções de voto em agosto, longe dos 4,3% do candidato da Aliança Republicana Nacionalista (Arena, de direita) e dos 2,8% da Frente Farabundo Martí (FMLN, de esquerda).

Em um país, onde a reeleição era proibida até a chegada de Bukele ao poder, opositores, advogados e analistas consideram que sua candidatura é inconstitucional, possibilitada por magistrados nomeados por um Congresso dominado por ele.

– “Guerra” contra as “maras” –

Sua vitória nas eleições de 2019 quebrou 30 anos de bipartidarismo à esquerda e à direita, quando El Salvador figurava como um dos países mais violentos da América Latina.

Depois de um fim de semana que registrou 87 assassinatos atribuídos às “maras”, Bukele impôs o regime de emergência, sob o qual já houve cerca de 73.000 detidos. Este ano, inaugurou uma prisão para mais de 40.000 detentos, considerada a maior do continente.

Cidades e bairros encurralados por gangues, que vivem de extorsão, venda de drogas e assassinatos de aluguel, foram cercados por milhares de policiais e militares.

“A FMLN e a Arena só roubaram. Bukele fez a gente viver mais tranquilo, sem que os ‘bichos’ (membros de gangues) andem ferrando as pessoas honestas”, disse o motorista de ônibus Javier Ramírez, de 54 anos, à AFP.

“A incerteza prolongada, devido à insegurança, é um dos fatores que levaram (…), sem dúvida, ao apoio que tem”, comentou a diretora do Instituto de Opinião Pública da Universidade Centroamericana (UCA), Laura Andrade, em entrevista à AFP.

Para Omar Serrano, vice-reitor da UCA, a candidatura “confirma a perda do Estado de direito e que a lei e a institucionalidade estão sujeitas à vontade do presidente”.

“Tem tudo para ser reeleito: os três Poderes, o Ministério Público, toda a institucionalidade, a Polícia Nacional e as Forças Armadas. Além do apoio social majoritário”, completou.

Grupos de direitos humanos criticam que o regime de exceção permita julgamentos coletivos e detenções sem mandado judicial.

– EUA mantém distância –

O secretário adjunto da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina, Brian Nichols, que concluiu nesta sexta-feira uma visita a El Salvador e que incluiu um encontro com Bukele na quarta-feira, manteve distância ao se referir à reeleição.

“A decisão de permitir a reeleição e quem será o candidato preferido dos salvadorenhos é uma questão dos salvadorenhos. Deve haver um amplo debate sobre a legalidade e legitimidade da eleição, mas é um debate para os salvadorenhos”, disse Nichols à emissora TCS, falando em espanhol.

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