“Incêndio destrói o Palácio de Buckingham”. A possibilidade é exagerada, mas crível no futuro próximo. Segundo o Tesouro britânico, que aprovou uma reforma no lar da Família Real ao custo de R$ 1,5 bilhão, as fiações elétricas, tubulações e sistemas de aquecimento precisam de reparos urgentes para evitar que a construção com mais de 300 anos pegue fogo. Um risco ainda maior e de proporções irreversíveis se estende ao acervo de obras de arte. Entre as 7 mil pinturas e 30 mil desenhos estão trabalhos datados de mais de 500 anos. Sem falar no prejuízo: só os 600 desenhos assinados por Leonardo Da Vinci são avaliados em R$ 14 bilhões. “Com esse investimento poderemos evitar danos mais caros e catastróficos nos próximos anos”, afirmou Tony Johnstone-Burt, chefe da Casa Real. São razões plausíveis, mas não suficientes para conter a revolta dos britânicos. Após a aprovação da verba, civis se mobilizaram em uma petição exigindo que a rainha Elizabeth e sua família, não os contribuintes, arquem com as despesas.

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“Há uma crise nacional de moradia, a saúde pública está com problemas, a austeridade está forçando cortes em muitos serviços primordiais. Agora a família real espera que cortemos ainda mais para reformar o Palácio de Buckingham. Isso é ultrajante”, afirma Mark Johnson, autor da petição, que até a quinta-feira 5 tinha mais de 144 mil assinaturas. Políticos também têm se posicionado contra a liberação de verba. “O governo parou de fornecer subsídios para a construção de habitação social, mas dá uma concessão direta à Casa Real”, disse a parlamentar Helen Goodman, do Labour Party.

Quem paga a conta

A questão discutida agora é se são mesmo os britânicos que estão pagando pela reforma. O dinheiro vai ser retirado do patrimônio da Coroa, fundo que reúne todo o rendimento dos bens pertencentes à monarquia britânica. No portfólio de imóveis estão o parque Windsor Great e a pista de corrida de cavalos Ascot. Juntos, valem R$ 49 bilhões e rendem lucros anuais para a Coroa – em 2015, chegou a R$ 1,3 bilhão. Apenas 15% são repassados à rainha Elizabeth. O resto, é enviado ao Tesouro. Por causa da obra, foi autorizado o aumento da porcentagem anual para 25% até 2027.

O Palácio recebe cerca de 500 mil visitantes pagantes só durante o verão, de junho a setembro, e é considerado o símbolo máximo da monarquia em todo o mundo. Erguido em 1703, tornou-se o lar da Família Real em 1837, quando foi ocupado pela Rainha Vitória. Foi bombardeado sete vezes durante guerras. A última grande reforma foi logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Novo velho castelo
Buckingham foi erguido em 1703, mas só se tornou o lar da família real em 1837. Agora, passará pela primeira grande restauração desde o fim da Segunda Guerra

10 anos
será a duração da reforma do palácio, que começará em abril de 2017

160 km
de cabos elétricos e 32 km de tubulação de aquecimento serão reformados, algumas partes pela primeira vez em 60 anos

R$ 1,5 bilhão
é a verba liberada para as obras, que serão bancadas pelos contribuintes britânicos

A casa de Elizabeth tem…

240 quartos

92 escritórios

78 banheiros

1.514 portas

760 janelas