Às vésperas de um controverso US Open, em meio à pandemia do novo coronavírus, um grupo de tenistas liderado por Novak Djokovic surpreendeu no fim de semana ao lançar uma nova entidade no esporte, a Professional Tennis Players Association (PTPA). A associação causou polêmica logo ao ser anunciada, com tenistas se posicionando contra e a favor. Um dos que reprovou a ideia foi o brasileiro Bruno Soares, um dos mais atuantes do circuito, dentro e fora das quadras.

“O momento não é bom para isso. Estamos voltando de uma pandemia. O tênis, obviamente como todos os esportes e negócios, sofreu muito com a pandemia. Acho que esse é o momento de a gente se unir e tentar recuperar logo a nossa força. Não era o momento ideal para fazer isso”, afirmou o tenista de 38 anos, ao Estadão.

A nova entidade causa polêmica já em seu nome. Numa tradução livre para o português, seria a Associação dos Tenistas Profissionais, que é exatamente o mesmo nome da ATP, a associação que rege o tênis masculino há quase 50 anos. Para alguns tenistas, a criação da nova entidade pode causar rivalidade natural com a ATP, o que poderia gerar uma divisão no tênis masculino.

Djokovic, que vem liderando o movimento ao lado do canadense Vasek Pospisil e do americano John Isner, acredita que a nova entidade atenderá melhor as demandas dos tenistas por reunir apenas atletas. A ATP reúne representantes dos jogadores e também dos torneios, tentando equilibrar os interesses dos dois lados. “Isso não é um sindicato, não estamos pedindo boicotes. E não estamos formando circuitos paralelos”, afirmara o sérvio, no sábado.

Para Bruno Soares, a criação da entidade até pode ser positiva no futuro, mas no momento causa polêmica. “Não sei se é viável a existência de duas associações assim. Diz a turma do Djokovic que pode, diz a turma da ATP que não pode. Teremos que consultar os advogados. Mas, legalmente, eu não sei te dizer se pode ou não”, comentou o duplista.

O brasileiro integra há anos o Conselho de Jogadores da ATP e revela que esse movimento já vinha se desenhando nos últimos anos. “Tem um tempo já, dois anos mais ou menos, que o Djokovic e Pospisil estão trabalhando nisso. Eles acreditam que, formando essa nova entidade, eles podem representar melhor os jogadores nas negociações e decisões. Então, é difícil falar até que ponto eles vão conseguir fazer isso.”

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Para poder liderar esta nova associação, Djokovic, Pospisil e Isner precisaram se afastar do mesmo Conselho do qual Soares faz parte. “A saída deles não foi abrupta. Houve diálogo. Ja vínhamos conversando sobre isso há um bom tempo. E, como a coisa tomou corpo e eles fizeram meio que o lançamento da entidade, digamos assim, aqui no torneio, a gente apenas falou: é um conflito de interesse estar nos dois lados. Seria interessante eles saírem e eles aceitaram na hora.”

A iniciativa de Djokovic também pode ter consequências nos bastidores, diante de outros ídolos da modalidade. Isso porque o suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal, principais rivais do sérvio no circuito, também fazem parte do Conselho dos Jogadores da ATP e ambos demonstraram apoio público à ATP, assim como fizeram outras entidades do tênis, incluindo a organização dos quatro torneios do Grand Slam.

“Na prática, no Conselho dos Jogadores da ATP, não muda nada. O Djokovic, o Isner e o Pospisil saíram. Continuamos com a mesma função. O que acontece é que precisamos substituir estes jogadores e continuar nosso trabalho, que a gente vem fazendo, que é tentar representar os jogadores nas negociações, nas decisões da ATP”, explicou Soares.


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