Após receber o diagnóstico de que estava com Covid-19, o prefeito de São paulo, Bruno Covas (PSDB), revelou que ficou apreensivo, pois além da doença que já tinha matado quase 5.600 pessoas no estado de São Paulo, o chefe do executivo municipal ainda passava por um tratamento contra o câncer.

Em entrevista ao jornal O Globo, Covas disse que até testar positivo para o novo coronavírus não tinha sentido nenhum sintoma da doença.

“Mas não tive nenhum sintoma. Fiquei duas semanas em casa, em isolamento. Não tive nenhuma dor, tosse, dor de garganta, febre, dor para respirar, perda de olfato ou paladar. O fato de nunca ter sentido nada diminuiu muito a angústia”, revelou o político.

“Eu havia testado negativo quatro vezes, todas elas por ter tido contato com alguém que havia testado positivo. Na quinta vez não foi diferente. Um assessor testou positivo e resolvi testar. Foi quando descobri que eu também tinha contraído o vírus. Mas não tive nenhum sintoma. Fiquei duas semanas em casa, em isolamento. Não tive nenhuma dor, tosse, dor de garganta, febre, dor para respirar, perda de olfato ou paladar”, completou.

Ao ser questionado sobre como é receber a notícia de ter contraído a Covid-19 e ao mesmo tempo estar no meio de um tratamento contra o câncer, Bruno disse que ficou apreensivo.

“Imagine eu lidando com milhares de mortes na cidade de São Paulo, passando por um tratamento oncológico, ainda receber a notícia que testei positivo. É claro que causou uma apreensão. O fato de nunca ter sentido nada diminuiu muito a angústia. Todo dia conversava com meu médico, o David Uip. Ele também teve Covid no início, mas sentiu mais os efeitos da doença. Fiquei tomando azitromicina, que é antibiótico. E não tive nenhuma dor. Ele disse que entre o quinto e o nono dia é a fase mais complicada. Então não precisei esperar até o final aflito. Passou o nono dia e fiquei mais tranquilo”, disse.

O prefeito de São Paulo também detalhou como são os efeitos do seu tratamento oncológico, além do planejamento para continuar a exercer suas obrigações no Executivo em meio à luta contra o câncer.

“Você sente fadiga, sente dificuldade. Mas os médicos sempre disseram: “Não somos nós que vamos dizer para você se você vai trabalhar uma, duas, quatro ou seis horas por dia. É o seu corpo que vai dizer”. Assim fui fazendo. Alguns dias tive de restringir a agenda a cinco, seis horas de trabalho. Fui tocando até o limite do meu corpo. Mas não houve necessidade de parar por uma semana, três ou quatro dias. Sempre tive disposição e estava aqui trabalhando. A única restrição, durante o tratamento quimioterápico, com a imunidade baixa, foi não fazer agenda externa. Durante esse período, de outubro até o início de fevereiro, não fiz. Trabalhava dentro da Prefeitura ou virtualmente”.

O mandatário disse ainda que a pandemia proporcionou um aprendizado sobre a saúde pública da cidade, a qual demostrou em números uma “discrepância grande” em relação à rede privada.

“Tem alguns números que a gente acabou aprendendo. Conhecia, mas não tão profundamente. No início do ano a cidade tinha 507 leitos de UTI para 60% da população que é SUS dependente. Então 7,5 milhões de paulistanos e paulistanas contavam com 507 leitos. Os outros 40% da população, que tem condição de ter plano de saúde ou pagar hospital privado têm à disposição mais de 4 mil leitos de UTI. Sempre soube que havia um atendimento melhor na rede privada, mas o número é muito assombroso. Assusta demais. É uma discrepância muito grande”.”

“Não é por acaso que o vírus é muito mais letal na periferia. A população classe E tem três vezes mais chance de pegar o vírus do que a população classe A. É um problema habitacional, de saneamento, é um problema cultural. O vírus jogou luz sobre a desigualdade na cidade”.

Covas destacou que os números de mortes por Covid-19 estão diminuindo pela sétima semana consecutiva e relatou o legado que a pandemia pode deixar para os cidadãos paulistanos.

“Para a cidade fica o aprendizado. Primeiro na questão cultural, de práticas de higiene, que a gente não tinha. Víamos cenas de países asiáticos, da população usando máscaras, e achávamos que isso nunca iria acontecer na cidade de São Paulo, no Brasil. Fica essa lição de cuidados com a saúde, com a higiene, de não tossir, espirrar na frente dos outros. O próprio teletrabalho deve permanecer, ainda que não 100% da forma que temos na pandemia”.

Sobre as recentes investigações contra o ex-governador Geraldo Alckimin e o ex-senador José Serra, nomes fortes do PSDB, Covas disse crer na inocência de ambos.

“Acho perfeitamente plausível, dentro da democracia, que as pessoas tenham que se explicar, que as instituições continuem a funcionar. Tenho certeza e convicção que tanto o senador José Serra quanto o ex-governador Geraldo Alckmin vão provar sua inocência. O que é ruim é essa condenação prévia. Primeiro que uma (pessoa) nem foi transformada em ré. O ex-governador foi indiciado e agora passa a ser investigado pelo Ministério Público. Nenhum problema que isso aconteça. Os dois têm uma contribuição dada a São Paulo e ao Brasil muito grande. São pessoas que conheço de longa data e que, tenho certeza, vão conseguir provar sua inocência”.