Brumadinho inaugura memorial em homenagem a vítimas de rompimento de barragem

Memorial Brumadinho
O Memorial Brumadinho é fruto da mobilização dos familiares para salvaguardar segmentos corporais de vítimas e honrar os 272 mortos Foto: Leo Drumond/Nitro/Divulgação

Seis anos após a maior tragédia brasileira ocorrida em um local de trabalho, o Memorial Brumadinho — um espaço de memória às vítimas do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais — será aberto no dia 25 de janeiro, às 15h, em uma solenidade especial com familiares das vítimas, autoridades e comunidade local.

Ele nasce de uma iniciativa histórica, fruto da mobilização dos familiares para salvaguardar segmentos corporais de vítimas e honrar as 272 vidas ceifadas na tragédia — 251 trabalhadores, dois nascituros, além de moradores da comunidade e turistas.

O Memorial está situado no local do rompimento, no Córrego do Feijão. Assim como o Cais do Valongo, principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, localizado na´´ capital fluminense; o Espacio Memoria y Derechos Humanos (ESMA), na Argentina; o Memorial 11 de Setembro, nos Estados Unidos; e o Memorial de Auschwitz, na Polônia; também o Memorial Brumadinho se constitui como um memorial in situ, ou seja, construído no local onde o evento ocorreu.

Para Fabíola Moulin, presidente da Fundação Memorial de Brumadinho — instituição de direito privado sem fins lucrativos, criada em 2023 para manter e gerir o Memorial —, ele não é apenas um espaço de lembrança. “O Memorial Brumadinho é um espaço de rememoração e de reflexão, pautado no compromisso ético de reparação simbólica a partir das memórias daqueles que foram vitimados pelo rompimento da barragem. Sua existência reflete a importância de não esquecer esse acontecimento e de compreendê-lo como uma prática de violência contra a humanidade e o meio ambiente”, afirma Fabíola.

Além de um dever de memória pela não repetição de desastres como este, Fabíola sinaliza um interesse do Memorial em atuar em convergência com vítimas e  projetos de memória de outras tragédias. “O Memorial Brumadinho tem o potencial de posicionar o Brasil como referência em iniciativas que tratam de memórias traumáticas, estabelecendo diálogo com outros países que enfrentaram tragédias semelhantes”, completa.

Criação

Em maio de 2019, familiares das vítimas protocolaram no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a solicitação da construção de um “Parque Memorial em homenagem às vítimas da tragédia na cidade de Brumadinho”, com a assinatura de cerca de 100 pessoas. Dessa mobilização nasceu também a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM), que passou a representar formalmente os interesses do grupo, bem como a pleitear a participação ativa no processo de construção do Memorial.

Em 25 de janeiro de 2020 (um ano após a tragédia), os familiares celebraram a conquista desta reivindicação coletiva, com a pedra fundamental do Memorial.

Em agosto de 2023, é firmado o Termo de Compromisso entre a Vale e a AVABRUM, com anuência do MPMG, que fundamenta a criação da Fundação Memorial de Brumadinho, instituição responsável por manter e gerir o Memorial.

“Esse espaço é nosso, é do povo, para que a gente não possa ser calado, para que a gente possa ter direito a voz, uma vez que eles não tiveram direito à vida. Somos os vigilantes da história. Aqui a gente vai dignificar todas as mortes, a gente vai contar realmente o que aconteceu”, reforça Kenya Lamounier, que perdeu o marido na tragédia e iniciou a mobilização para a construção de um espaço de memória, além de ser membro do conselho-curador do Memorial e da diretoria da AVABRUM.

Pai e avô de vítimas, e presidente do conselho-curador da Fundação Memorial de Brumadinho, Vagner Diniz ressalta que o Memorial Brumadinho torna-se realidade após um trabalho marcado por muitos desafios para torná-lo operacional e representativo dos familiares, garantindo uma governança independente e alinhada às famílias das vítimas.

“Entre todas as ações, obras e grandes acordos que já foram celebrados a partir do rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, o Memorial é a iniciativa que efetivamente escuta os familiares de vítimas e permite que se apropriem do que ele significa. Um rabino americano afirmou que somos nós, os vivos, os responsáveis por eternizar aqueles que nos são queridos e nos foram tirados. O Memorial é o espaço que nós, familiares, estamos nos apropriando como memória e legado”, afirma Vagner.

272 mortes

O Memorial Brumadinho é um espaço de memória das vítimas do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em 2019, em Brumadinho (MG). Ele nasce de uma iniciativa histórica, fruto da mobilização dos familiares para salvaguardar segmentos corporais de vítimas e honrar as 272 vidas ceifadas na tragédia — 251 trabalhadores, dois nascituros, além de moradores da comunidade e turistas.

Localizado no local do rompimento, o espaço é dedicado a preservar a memória e homenagear as 272 vidas perdidas, por meio de exposições, acervo, pesquisa e ações educativas, mobilizando dinâmicas de reflexão sobre a maior tragédia humanitária do país para que desastres como este não se repitam.

O projeto do Memorial Brumadinho — escolhido pelos familiares por votação — foi idealizado pelo escritório Gustavo Penna & Arquitetos Associados e visa proporcionar uma experiência imersiva aos visitantes. O espaço reúne um bosque com 272 ipês amarelos, plantados em homenagem a cada uma das vítimas, uma escultura-monumento, um espaço meditativo, uma drusa de cristais, duas salas de exposição, além de um espaço dedicado à guarda digna e honrosa dos segmentos corpóreos das vítimas.

“Este Memorial é um espaço onde a arquitetura encontra a memória, um território de reflexão coletiva. Ele simboliza a força e a fragilidade da vida, acolhe a dor e a transforma em um ato de resistência contra o esquecimento. É um lugar para lembrar de histórias que não podem ser apagadas, para refletir e seguir adiante com a certeza de que essas vozes não foram silenciadas, pois permanecem ecoando em nós”, explica o arquiteto Gustavo Penna.

Além de um espaço de memória, ele terá projetos educativos e de pesquisa, fomentando estudos interdisciplinares em áreas como meio ambiente, geografia, arquitetura, direito e história, com foco na tragédia e seus desdobramentos. “O Memorial Brumadinho se coloca como uma iniciativa pioneira no Brasil, que visa promover o direito à memória e o incentivo a reflexões fundamentais sobre o tema”, afirma Fabíola Moulin, presidente da Fundação Memorial de Brumadinho.

Abertura

A data escolhida para a abertura é a mesma da tragédia, ocorrida em 25 de janeiro de 2019. Todos os anos, esse dia é marcado por um grande ato realizado pelos familiares, em Brumadinho, para lembrar e cobrar justiça para as  272 vidas perdidas — a quem os familiares chamam de “joias”.

Na manhã do sábado (25 de janeiro), o ato público será realizado na Praça Saudade das Joias, em Brumadinho.

À tarde, a partir das 15h, o Memorial Brumadinho se abre para receber familiares e autoridades para a solenidade, seguida de visita pelo espaço e às salas de exposição Memória e Testemunho, o concerto da Orquestra de Cordas, formada por jovens músicos de Brumadinho, e intervenções poéticas com Raquel Pedras ao longo de toda a programação.

No dia 26, a cerimônia — restrita a familiares e convidados — se repete pela manhã.

Sábado 25/01

15h – entrada dos convidados

15h às 16h – visita às salas de exposição Memória e Testemunho

16h – cerimônia de abertura com fala de autoridades

16h30 às 20h – visita às salas de exposição Memória e Testemunho

17h30 – Orquestra de Cordas, formada por jovens músicos de Brumadinho

Ao longo da programação – intervenções poéticas com Raquel Pedras

20h – encerramento

Domingo 26/01

11h – entrada dos convidados

11h30 – cerimônia de abertura

11h às 16h – visita às salas de exposição Memória e Testemunho

12h – Orquestra de Cordas, formada por jovens músicos de Brumadinho

12h28 – visita à Drusa

Ao longo da programação – intervenções poéticas com Raquel Pedras

16h – encerramento

Serviço

Memorial Brumadinho

Endereço: Rua Hum, 100, Bairro Córrego do Feijão, Brumadinho

Memorial aberto só para convidados nos dias 25 e 26/01

Aberto ao público e com visitação gratuita

Segunda e terça: fechado

Quarta à sexta: 9h30 – 16h30

Sábado, domingo e feriado: 9h30 – 17h30