Stuart Elkington, de 47 anos, está há sete anos sem beber álcool. No Reino Unido, não é mais uma exceção, porque mais e mais pessoas optam pela sobriedade, forçando a indústria de bebidas alcoólicas a se adaptar.
“Percebi que dormia melhor, me sentia bem e tinha mais energia”, explicou à AFP este homem que desistiu do álcool quando começava uma família com sua companheira.
Em 2017, das 7.100 pessoas com pelo menos 16 anos entrevistadas para um estudo do Instituto Nacional de Estatística (ONS), apenas 57% haviam consumido álcool na semana anterior. Foi o nível mais baixo em 12 anos. Em 2005, quando esta pesquisa foi realizada pela primeira vez, a proporção foi de 64,2%.
E os abstêmios são cada vez mais numerosos: 20,4% da população nunca bebe, em comparação com os 18,8% doze anos antes.
No conjunto das nações, o Reino Unido costuma aparecer entre os vinte em consumo de licores e cerveja.
Para Stuart Elkington, o bem-estar reencontrado não se deu sem frustração. “Sentia falta de tomar uma cerveja. Mas quando buscava uma [sem álcool] com bom gosto, não conseguia”.
Por isso, em 2016, lançou a Dry Drinker, empresa que comercializa na internet cervejas, vinhos e licores sem álcool ou com muito pouco álcool. Seu catálogo foi crescendo e hoje conta com mais de 100 produtos, alguns britânicos outros do resto da Europa.
“Quando se tem filhos, uma família ou uma vida muito ativa, não quer perder tempo com ressacas. Para mim, tratava-se de aproveitar o melhor: saborear uma cerveja, mas sem os aspectos negativos”, assegurou.
– Batalha feroz –
Em dois anos, as vendas aumentaram rapidamente, coincidindo com a chegada ao mercado de novos produtos de melhor qualidade oferecendo “o sabor do álcool sem álcool”, explicou Elkington.
Uma tendência reforçada pela crescente popularidade da campanha “Dry January” (“Janeiro sóbrio”), uma iniciativa lançada em 2013 que incentiva os britânicos a não beber por um mês após os excessos das festa de fim de ano.
As vendas de vinhos sem álcool aumentaram 8% entre 2015 e 2017 no Reino Unido, de acordo com a consultoria Kantar Worldpanel, e as de cerveja e sidra com menos de 1,2% de álcool em 28%.
O motor dessa demanda “é a conscientização” dos consumidores sobre os riscos do excesso de álcool, explicou a empresa de análise econômica BMI Research, afirmando tratar-se de um fenômeno disseminado pelos “países desenvolvidos” em geral.
A indústria do álcool e os supermercados se voltaram para essa tendência promissora comercialmente.
“Em um mercado cada vez menor, a batalha para manter a participação de mercado é inevitavelmente feroz”, diz John Timothy, que dirige o lobby britânico do álcool, Portman Group. Os produtores dedicam “milhões de libras” às novas bebidas sem álcool para melhorar sua qualidade, segundo ele.
O mercado britânico viu recentemente o lançamento de novas cervejas não-alcoólicas, uma delas da maior empresa do setor, a AB InBev (de capital belga e brasileira), que espera que prevê que até 2025 quase 20% de suas vendas sejam de cerveja sem álcool.