Criado com o objetivo de ser uma opção crítica à velha política brasileira, o Partido Novo vem causando estranheza até ao seu fundador, o empresário João Amoêdo. Ele foi o primeiro candidato a presidente da República pela sigla em 2018 e ajudou a eleger um governador e oito deputados federais. Hoje, o partido convive com a desconfiança do eleitorado que não entende a aproximação dos políticos eleitos pela legenda com o governo Bolsonaro, que os filiados rejeitam. Amoêdo sintetiza esse descontentamento. Ele é opositor radical de Bolsonaro, ao ponto de pedir seu impeachment, o que para ele “é sempre traumático, mas necessário”. A história mostrou que quando há desgoverno a cassação do presidente pode fazer o País dar um passo à frente. “Bolsonaro foi eleito com um discurso liberal, mas no poder se mostrou intervencionista e protecionista”, disse Amoêdo.

“Não podemos ter apego pelo poder” João Amoêdo, empresário (Crédito:Divulgação)

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e a bancada de deputados federais, liderada por Vinicius Poit (SP), são contrários à ideia de impeachment e pregam uma posição de independência em relação ao governo. No entanto, os deputados votaram para que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) tivesse a prisão revogada, em flagrante alinhamento ao bolsonarismo.

Em entrevista à ISTOÉ Amoêdo não quis dizer se a mosca do poder pousou nos paletós dos eleitos, mas também não os defendeu. Os acordos, especialmente em Brasília, criam um ambiente fabuloso ao que poucos estão preparados para confrontar. “É um grande desafio para iniciantes na política”, diz Amoêdo. Nas redes sociais um bate boca, ao estilo de telenovela, colocou mais lenha na fogueira. Os adversários de Amoêdo dizem que ele “não é o dono do partido”, enquanto o empresário diz que questionar é o mínimo que ele tem direito, até por ser fundador. Amoêdo afirma que o enfrentamento à Covid-19, a postura intervencionista que nega os valores liberais e os escândalos de corrupção da família Bolsonaro, contrariam o ideário do partido.

A velha política

As eleições de 2020 foram cruciais para aprofundar as diferenças internas. O cálculo eleitoral dominou as ações dos candidatos. “Eles temiam que à medida que eu criticava Bolsonaro isso poderia trazer a perda de votos”, disse. Na última reunião do partido, a opinião do grupo de Amoêdo foi vencedora, ficou estabelecido que a legenda fará oposição crítica e que isso pode levar uma postura pelo impeachment. No entanto, as miudezas do poder mostram o quanto a velha política impera, mesmo a quem se intitula o novo.